– Eu odeio você. Não sei por que me casei com você. Mas você insistiu tanto.
Agarrei-a e apertei-a forte. Mordisquei suas sobrancelhas e cílios longos. Passei para o nariz e as faces, e depois para a boca. No início era apenas uma boca, depois uma língua ativa, depois um longo suspiro, e por fim duas pessoas tão unidas quanto se podem unir duas pessoas.
– Pus um milhão de dólares à sua disposição, pra você fazer o que quiser – ela sussurrou.
– Um gesto belo e generoso. Mas você sabe que eu não tocaria neles.
– Que vamos fazer, Phil?
– Vamos ter de aguentar. Não vai ser sempre fácil. Mas eu não vou ser o sr. Loring.
– Eu nunca vou conseguir mudar você, vou?
– Quer realmente me transformar num gatinho ronronante?
– Não. Não me casei com você porque eu tinha muito dinheiro e você quase nenhum. Me casei com você porque amo você, e uma das coisas pelas quais amo você é que não dá a mínima para ninguém… às vezes nem mesmo para mim. . Não quero tornar você vulgar, querido. Só quero ver você feliz.
– Eu quero fazer você feliz. Mas não sei como. Não tenho muitas cartas. Sou um cara pobre casado com uma mulher rica. Não sei como agir. Só sei de uma coisa: escritório mixuruca ou não, foi lá que me tornei o que sou. É lá que serei o que vou ser.
de Raymond Chandler em “Amor&Morte em Poodle Springs”, romance policial interrompido com a morte do escritor. Anos mais tarde o jornalista Robert Parker terminou esta última história protagonizada pelo detetive Philip Marlow – e de forma brilhante, seguindo o estilo do ídolo e mestre.
A boa notícia desses dias nos suplementos ditos literários é que a obra de Chandler está sendo retraduzida, e em breve teremos os primeiros lançamentos dos romances e contos policiais do magnífico autor de A dama do lago, entre outras joias. Como se gritava nos velhos tempos da torcida na várzea: Ip, hurra!!!