por Osman Gadoso
Virgem
Descobriu um dia que semelhantes se alimentavam de fantasias para sobreviver. O anão que acreditava ter um caso com a donzela de dois metros e de sangue azul. O analfabeto que rabiscava um diário e dizia estar prestes a publicar o romance do século. O guardador de carros que usava a mesma camisa durante todo o mês, mas jurava jantar todo dia com o rei do estanho para dar dicas do mercado de capitais. A quarentona que transou com a dupla famosa de cantores sertanejos e ganhou uma música que só pode cantar embaixo da ducha Corona no quarto-e-sala da rua Tibagi. O jogador de unha encravada que recebe o espírito de Garrincha, mas nunca em dia de pelada no campinho onde o Parque Alvorada fez fama. Um dia, de tanto se interessar por estes tipos, encontrou alguém que, do nada, lhe contou toda a vida, que era igualzinha a dele. Achou melhor parar de fantasiar.
Es-pe-ta-cu-lar. Casos que observamos e nos quais pensamos e que tão bem você colocou em palavras. Parabéns mais uma vez!