Mais pelo jeito
das coisas
do que pelas coisas ditas
eu deveria viver.
Desconfiando das palavras
mas sabendo
o quanto delas dependo
para fazer o sim e o não.
E também dizer
o que escondo dizer.
Calar e esperar
é o que deveria fazer.
As palavras criam desígnios
sons que viram abismos.
Mas me arrisco
e não calo
pois só assim
consigo me entender
me desentender
e suportar viver.
Só o que eu tenho
são minhas palavras.
Fazer delas o quê?
Sem elas, o quê?
de Enio Mainardi em O Moedor