por Osman Gadoso

Capricórnio

Comprava livros como quem compra banana na feira. Escolhia bem, mas levava para casa cachos e cachos. O apartamento era tão pequeno que tinha de entrar de lado. Os volumes estavam amontoados por todos os lugares. Conseguiu uma estante, mas era pequena e foi encaixada no único pedaço de parede livre. Foi entupida com parte do que estava empilhado em todos os cantos possíveis, principalmente embaixo da cama de casal. Morava sozinho. As raras pessoas que entravam ali, quando encorajadas, perguntavam se ele já tinha lido tudo. Ele era sincero na resposta negativa. Pensava em deixar um pequeno tesouro para os filhos, netos, bisnetos, tataranetos. Mas o prazer maior era saber que estava cercado por tantos universos brotados de almas diversas… E se contentava em “beber” em gotas os mais diversos gostos ali armazenados. Fazia isso por instinto. Um dia teve a honra de contar essa história para o mestre Wilson Martins. A resposta foi a que precisava: “O que seria de nós se não fossem os livros?”