Ontem vi um jovem preso
a uma cadeira de rodas.
Mãos, pernas, tronco –
imobilizados numa rigidez
de pedra.
De vivo apenas seu olhar –
atento, vigilante,
como se contemplasse tudo
das alturas.
Que expressão, Senhor,
que força poderosa…
Tu puseste todos os seus
músculos ali.
de Jamil Snege
Já que estamos poemando, vou poemar!!!!!!!!
DIGA-ME LÁ
René Amaral
Diga-me lá direita
digam-me lá direitistas
quem são vocês?
Quem são seus luminares?
quem carrega sua tocha?
Ou preferem a escuridão
dos estandartes?
Tem vocês um Chico (o Buarque)?
ou um Freyre (o Paulo, por favor)?
quiçá um Veríssimo ou Suassuna?
Ou vocês detestam pensamento e pensadores
como fogem da luz.
Quem escreve suas palavras?
Quem as lê?
Quem lhes põem fé?
Diga-me lá,
se puderem,
quem te carrega nas costas?
já que suas pernas caquéticas
não vão tão longe
quanto sua ganância.
Diga-me lá
quem te carrega o peso morto
de tantos mortos no teu rastro?
Diga-me lá direita,
e direitistas,
querem vocês endireitar o pepino?
ou só metê-lo em nós?
Diga-me lá,
se ainda tiveres um fio de cabelo de sinceridade,
se acreditam mesmo que alguém acredita em vocês.
Diga-me lá quem vende seu peixe,
e quem compra,
diga-me lá,
quem o come,
podre e fedorento que é.
Diga-me lá em que buraco te escondes,
que a justiça nunca te acha,
diga-me lá,
se a própria justiça
não é obra tua
disfarçada de santa,
qual Papa canonizado na safadeza dos altares de todos os deuses.
Diga-me lá direita
porque és tão torta
como boca de cachimbo,
diga-me lá quão longe esperas ir
com suas pernas curtas de mentira.
Diga me lá direita
onde levas teu povo,
cadafalso ou patíbulo,
frigideira ou fogo.
E por fim
diga-me lá direita
por que te chamas direita se és tão errada?