9:26O significado de uma candidatura

Por Ivan Schmidt

 

O megaempresário paranaense Joel Malucelli admitiu em recente entrevista a uma emissora de televisão (por sinal de sua propriedade), ser candidato ao governo do estado pelo PSD em 2014. Revelou que essa é a intenção do partido presidido no Paraná pelo deputado federal Eduardo Sciarra e mais, que a chapa será pura.  Malucelli se referiu também ao planejamento nacional do partido, cujo líder é o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, para quem a agremiação trabalhará para ter candidatos próprios ao governo no maior número possível de estados.

 

Ramo tardio do neoliberalismo brotado do DEM, que várias vezes tentou pela mudança da denominação espantar o miasma da ligação siamesa com a tristemente lembrada Aliança Renovadora Nacional (Arena), plataforma da sustentação civil do golpe militar (aliás, desfechado com irrestrito apoio do alto empresariado), o PSD de Kassab proclamou no comunicado de criação “não ser de direita, nem de esquerda e tampouco de centro”.

 

Com o que o arco partidário brasileiro passou a contar com uma espécie de hímen complacente, suscetível a albergar o pensamento que percorre a longa distância entre Gengis Kã e a Velhinha de Taubaté, passando por Marx, Gandhi, Hitler, Che Guevara e Fujimori, apenas para citar uns poucos antípodas com passagem pela história.

 

O próprio Gilberto Kassab é exemplo vivo dessa dicotomia, iniciada na eleição como vice-prefeito de São Paulo na chapa liderada pelo tucano José Serra, em aliança com seu partido de então, o DEM. A aliança prosseguiu na eleição seguinte para o governo estadual, com a indicação do companheiro de chapa de Geraldo Alckmin, o hoje midiático Guilherme Afif Domingos, nomeado há pouco mais de um mês, pela presidente Dilma Rousseff, ministro-chefe da Secretaria da Pequena e Média Empresa.

 

Na verdade, esse sintomático ecumenismo é característico dos governos Lula e Dilma, que conseguiram montar um fantasioso castelo de cartas estribado em políticos que orgulhosamente se proclamam herdeiros da ditadura, oportunistas da chamada bancada evangélica, do latifúndio, do vértice superior da pirâmide social e outras vertentes, concedendo-lhes largos espaços nas sesmarias da Esplanada dos Ministérios, lado a lado com personagens perseguidos, presos e torturados pelo regime de exceção.

 

Destarte, tanto Lula quanto Dilma se tornaram expoentes da arte de manter um pé em cada canoa, superando com invejável picardia a ânsia de vômito causada nos momentos de maior intensidade da marola. A mezinha mais utilizada para atenuar a aparente rebeldia da base sempre foi a suspicaz tática da liberação de alguns bilhões em emendas que satisfaçam a ganância das raposas do Congresso que tudo fazem para manter o domínio sobre os currais eleitorais.

O homem de empresas Joel Malucelli teve o nome lembrado em ocasiões outras para o governo estadual, mesmo que a ideia não prosperasse em nenhuma das oportunidades. Parecia um reserva de luxo sempre citado por forças políticas consolidadas ou emergentes diante de impasses momentâneos quanto às probabilidades de êxito ou fracasso deste ou daquele candidato.

 

A rigor, não deixa de causar surpresa quando empresário do porte de Joel, que está para o Paraná como Jorge Gerdau para o Rio Grande do Sul e Paulo Scaf para São Paulo e sem favor algum ocupa lugar de vanguarda entre os grandes empreendedores do país, anuncia a pretensão de ingressar na vida pública e disputar de saída o cargo de governador.

 

Ele o faz, obviamente, com base na solidez econômico-financeira de seu conglomerado empresarial, no qual se sobressaem o banco de investimentos, a empresa de energia somente superada pela Copel, a empreiteira de obras, a seguradora e a empresa de previdência privada, além das dezenas de outras que compõem o universo do grupo, que tem lugar até para um clube de futebol.

 

Na entrevista, Joel falou que o grupo tem o projeto de construção de um aeroporto de carga no município de Balsa Nova, com pista de 4,1 mil metros e apto para a operação de qualquer tipo de aeronave. Não tenho informação segura sobre o tema, mas imagino que o empresário paranaense seja um dos poucos a investir num projeto dessa dimensão estratégica.

 

Filiado ao partido do ex-prefeito Gilberto Kassab, ao antecipar a eventualidade de candidatura própria ao governo do Paraná, reconhecendo que já há três candidatos ao mesmo posto (Beto, Gleisi e Requião), Joel assevera que o PSD deverá concorrer em raia exclusiva, ou seja, sem pensar em coligações com PSDB ou PT e, muito menos com o PMDB. Como não mais se exige a verticalidade no alinhamento partidário para embates eleitorais, não se descarta o possível ingresso do PSD na coligação de apoio à reeleição de Dilma, que assim teria a vantagem de dois palanques no Paraná, o de Gleisi e o de Malucelli.

No Rio de Janeiro, diante de igual probabilidade, com as candidaturas do PMDB e PT, o governador Sergio Cabral demonstra visível contrariedade com a iminência da rejeição do projeto da eleição do atual vice-governador Luiz Fernando Pezão, flanqueado de perto pelo senador petista Lindbergh Farias, ex-prefeito de Duque de Caxias. Não se espera a ocorrência de mal-estar semelhante por essas plagas, tendo em vista a preferência natural da presidente da República pela candidata petista. No entanto, como diz o bordão de uma emissora de radio (também de Joel) que “em vinte minutos tudo pode mudar”, não se deve jurar que a calmaria não venha a ser interrompida por algum vento impetuoso.

 

Interpretações políticas à parte, dentre os últimos sete cidadãos que governaram o Paraná por 40 anos desde Jaime Canet e Ney Braga, os últimos nomeados pela ditadura, vindo em seguida José Richa, Álvaro Dias, Roberto Requião (três mandatos), Jaime Lerner (dois mandatos) e Beto Richa, apenas Canet preenchia a condição de empresário, diga-se de passagem, muito bem sucedido. E o que se pode dizer de sua gestão é que foi uma das mais operosas que o estado teve desde a segunda metade do século 20. Ele nomeou secretários com perfil técnico e executivo, a exemplo de Belmiro Valverde (Planejamento), Jaime Prosdócimo (Fazenda) e Paulo Carneiro (Agricultura), entre outros, reservando a mínima operação política exigida (a Arena deitava a rolava) aos deputados Fabiano Braga Cortes, Erondy Silvério e Luiz Roberto Soares.

 

Contudo, nem a excelente administração realizada por Jaime Canet no período que o Paraná recebia torrentes de dinheiro federal graças ao prestígio de Ney com os generais de plantão, foi argumento suficiente para repetir a experiência. Talvez pela carência de bons gestores dispostos a confiar seus negócios a colaboradores capazes e cuidar da máquina pública.

 

Joel afirmou que o governo estadual precisa de um choque de gestão, de projetos bem elaborados e pessoas competentes para sua execução. Um dos êxitos do grupo foi primeiro encontrar as pessoas certas para gerir grandes empreendimentos e só então criar a estrutura operacional para tocá-los. Há quem diga que tal cenário é inconcebível numa gestão obrigada a retalhar a administração entre as legendas participantes da coligação, em autêntica torre de Babel. Como faria Joel para decifrar esse novíssimo teorema de Pitágoras?

 

Por outro lado, é bastante improvável que uma chapa pura lançada por partido ainda em vias de consolidação junto ao eleitorado, por melhor que seja o candidato, tenha condições de vencer, ainda mais isolado. O virtual candidato do PSD ponderou, entretanto, que a fase é de avaliação e muita conversa e que a decisão oficial pode aguardar até abril ou maio do próximo ano para ser anunciada. Mas, a disposição é enorme.

 

É ponto pacífico que a tese deverá ser amplamente discutida e amadurecida pela classe empresarial, ao menos a parcela consciente que a gestão pública deve ser entregue às mãos de quem apresenta provas cabais de eficiência, sobretudo, com mentalidade focada no Paraná das próximas gerações. É também óbvio cogitar de onde virá o volume necessário de recursos financeiros para enfrentar uma dispendiosa campanha majoritária. Esperemos os lances seguintes da tômbola eleitoral.

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3 ideias sobre “O significado de uma candidatura

  1. Nasce um novo Toni

    Nasce um novo Tony Garcia? Será que aguenta a primeira avaliação da vida pessoal, de empresas, e de tudo mais.
    Não aguenta.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Não leve o ilustre megaempresário a sério, meu caro Ivan. Ele é o nosso Eike Batista e sempre candidato, mas no fim acaba desistindo, em nome de outras… digamos, vantagens empresariais.

  3. Mr.Scrooge

    Pelo amor de Deus, o cara já começa falando de choque de gestão? Pirou mano, porque o ultimo que falou isto não deve saber o significado da expressão, confundiu gestão com indigestão, porque este é o governo do cara, da indigestão, está muito duro de digerir.

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