Somos uns animais diferentes dos outros, provavelmente inferiores aos outros, duma sensibilidade excessiva, duma vaidade imensa que nos afasta dos que não são doentes como nós. Mesmo os que são doentes, os degenerados que escrevem história fiada, nem sempre nos inspiram simpatia: é necessário que a doença que nos ataca atinja outros com igual intensidade para que vejamos nele um irmão e lhe mostremos as nossas chagas, isto é, as nossas misérias, que publicamos cauterizadas, alteradas em conformidade com a técnica.
de Graciliano Ramos em carta de abril de 1935 à Heloísa, sua mulher, falando sobre a devoção à literatura (trecho publicado no livro “O Velho Graça”, de Dênis de Moraes)