por Osman Gadoso
Sagitário
Ela teve nojo de ver os corações de galinha serem espetados antes de receberem o calor da churrasqueira. Disse: elas também amam. Depois, não ligou mais, pois estavam fritinhos e um monte de gente comeu-os sem o menor remorso. As rosas estavam no vaso de cristal. Três espécies. Dezoito exemplares. Na luz da janela, tomaram a dimensão de um quadro renascentista. Uma tela de 42 polegadas, plasma, comprada em dois cartões de crédito, não saiu da caixa porque maior que o quarto. Steve Ray Vaughan em Montreaux também não saiu da embalagem de dvd para fazer o show da estréia. Um domingo qualquer. Que começou ameaçando chuva, se transformou num pudim de leite cremoso depois do churrasco. No banheiro da suíte da casa familiar, uma cueca pendurada. Do visitante. Que espetou os corações, que presenteou a tv, que entregou as rosas e escreveu uma mensagem. Como se fosse o dono daqueles corações todos, mesmo sendo bicho homem. Uma caipirinha de amoras foi feita. Com vodka. O sol na cabeça trouxe uma cena bonita: mangueira ligada e um banho surpresa nos visitantes, mesmo os que estavam dentro da casa. Ninguém reclamou. Há quanto tempo não acontecia isso. Roupas coladas ao corpo, tudo molhado, o brilho das gotas de água grudado como jóias. Continue assim, dizia o bilhete para a sagitariana.