por Zeca Corrêa Leite
Dá-me água para beber.
Água de dias comuns,
quarta-feira, por exemplo,
de abraço carregado de carinho
logo depois esquecido.
Cristalinas lembranças
me faça beber,
com perfume de flores,
sol inclemente do meio-dia,
chuva inundando tudo.
Encha-me o copo de estalos,
silêncios, madrugada,
passos nos caminhos invisíveis,
canções perdidas
nos discos emudecidos.
Despeje em canecas de alumínio
o amassado do leito dos rios,
cachecol, sapato furado,
relógio de pulso,
aliança de ouro de quem partiu.
Em taças de cristais derrame
as águas do meu olhar
de quando menino
de quando poesia
de quando só espantos.
Caso queira me dê água
somente água,
assim como um sorriso,
beijo na face, ternura,
uma palavra interrompida.
Zequinha, grande poeta!