O gênio Garrincha é eterno. O homem Manoel Francisco dos Santos morreu pouco antes de completar 50 anos, vítima de alcoolismo. Na última entrevista que deu, recentemente resgatada e publicada pela revista ESPN (ler abaixo), disse que não era viciado. O homem não conseguiu enxergar seu grande adversário. Não pode driblá-lo para controlá-lo na distância que separa a sobriedade do primeiro gole e do consequente inferno. Derrubado, não acreditou que isso poderia acontecer – e ficou ali, na luta insana contra um inimigo poderoso, traiçoeiro, que está fora, mas principalmente dentro. E Manoel perdeu o jogo e a vida. Ficou a saudade do gênio, que poderia estar entre nós sendo reverenciado por toda a alegria que nos deu.
A entrevista perdida de Garrincha: Pelé ‘safado’, basta à bebida e o relacionamento com os filhos
“A verdade é que eu não tenho nada pra fazer, a não ser o trabalho com as crianças. Então, claro que aparecem aquelas pessoas que te convidam para beber. Se eu fosse ao botequim… por isso eu não vou! Só saio pra comprar o leite das crianças e o cigarro. Mesmo assim, sempre aparece alguém me convidando com uma cerveja, mas eu falo na hora ‘não, muito obrigado, mas eu não bebo, não posso beber, está proibido pelo médico.'”
Agora só guaraná?
“E café. Café eu tomo bastante e, de verdade, não me faz mal.”
Sobre Pelé
O Pelé foi mesmo o melhor jogador do mundo?
“Ele foi um jogador bom. Ele tinha sorte, fazia gol e tinha sorte, mas também tinha gente boa do lado dele para dar a bola.”
O que é que você mais gostava do Pelé quando ele jogava?
“Ele era um jogador com muita sorte. A bola chegava pra ele, e ele também ajudava com essa sorte.”
Você tem algum contato com ele hoje? Ele te visita?
“Que nada! Ele é um safado, virou estrela agora [Garrincha se referia à exposição que Pelé tinha naquela época por causa do relacionamento com Xuxa]!”
Nair Marques – Tereza, Edenir, Marinete, Juraciara, Denízia, Maria Cecília, Terezinha e Cíntia
Iraci – Neném e Márcia
Elza Soares – Garrinchinha
Vanderléa – Lívia
Alcina Alves Cunha – Rosângela [fez exame de DNA e teve a paternidade de Garrincha
reconhecida apenas em 1999]
Como foi realmente essa história [sobre o filho Ulf, nascido na Suécia]?
“Estava todo mundo bebendo, alegre, lá no hotel na Suécia, e eu me envolvi com uma mulher. Isso foi mesmo em 1958. Quando voltei, em 1959, apareceu um policial lá no hotel. Eu tive que tirar sangue, tiraram sangue do menino e assim ficou provado que era o meu filho. Sabe, ele joga futebol e é ponta-direita!”
Você tem contato com ele?
“Sim, tenho até foto dele! Ele não é branquinho, puxou a cor brasileira.”
E com a mãe dele, você tem algum contato?
“Não, foi uma noite só. Agora, com meu filho sim, ele sempre manda carta. O governo de lá dá apoio e só depois dos 21 anos ele poderá vir aqui [Ulf chegou a visitar o Brasil, mas apenas depois da morte do pai].”
Que idade tem o seu outro filho, que também joga futebol?
“O Neném tem 18 anos. Ele sabe jogar futebol. Não é porque sou o pai, mas ele sabe jogar, é bom jogador. Um garoto ainda, mas é bom mesmo.”
Como jogador de futebol, você gostaria que ele continuasse na sua carreira?
“Gostaria, mas se ele não conseguir, não ligo. Toda pessoa nasce com o destino certo. Esse meu filho [Neném] nasceu para jogar futebol. O pequeno, Garrinchinha, que tem cinco anos, eu não sei, mas ele gosta de bola. Então, vamos ver. De repente vai estudar, ser médico ou qualquer outra coisa e não vai ser jogador de futebol.”
Dos três, apenas o filho sueco vive. Garrinchinha morreu em 1986, aos nove anos, em um acidente de carro na estrada Rio-Magé, após ter ido disputar uma pelada em Pau Grande, terra natal de Garrincha.