Depoimento de Nelson Bond Neto – jornalista
Vila Pinto, oito e meia da manhã de hoje. Pela rua que corta o “bairro”, minha esposa segue em seu carro a caminho do trabalho. Na subida, presa pelo trânsito, se assusta com um estouro e sente o estilhaço dos vidros atingirem seu rosto. Um moleque coloca metade do corpo para dentro do carro, rouba sua bolsa e sai de pinote para dentro da favela.
Cena comum naquele lugar: é a segunda mulher assaltada de forma violenta neste mesmo dia. Elas são as vítimas preferenciais. É a terceira vez que isso acontece com minha esposa no período de 2 anos.
Ela chama a polícia, que atende até com certa rapidez. Os policiais militares, cidadãos e trabalhadores como ela, atendem a ocorrência burocraticamente, como são orientados pelo seu “comando”: fazem a notificação e encaminham para a Furtos e Roubos. Na verdade, eles não poderiam nem ter atendido a ocorrência: estão fora de sua “subdivisão”. Ou seja, a cidade de Curitiba é uma só para nós. Se você for assaltado e um policial estiver fora de sua área, ele não vai fazer nada, sob pena de ser advertido pelo seu “comando”.
Pior: todo mundo sabe quem são os bandidos que receptam e os mocós de tráfico dentro da Vila Pinto. Inclusive a população local, feita pela maioria de honestos trabalhadores, mas que são cúmplices do crime pelo medo.
Aí, vem a segunda parte dessa história.
Depois de tentar controlar o medo e a raiva, registrar ocorrência, mandar consertar o vidro do carro, telefonar para todos as bancos e operadoras de cartão de crédito, tomar calmante, perder a fome, o dia de trabalho, um frio no estômago informa ao cérebro que é hora de descobrir quem são os verdadeiros culpados por essa situação. E não é difícil encontrá-los: o Governador do Estado, Roberto Requião de Mello e Silva, o Secretário de Segurança, Luiz Fernando Ferreira Delazari e o Comandante Geral da Polícia Militar, Cel QOPM Nemésio Xavier De França Filho. Também são cúmplices. Se acham não, leiam o que disse Roberto Requião em seu discurso de posse:
“Escandalizem-se. Mas reajam, mas façam alguma coisa…”
“…Palavras e obras. Coerentemente. O que pensamos, o que discursamos, o que declaramos corresponde, sempre , ao que fazemos…”
“…Na Segurança Pública, a implantação de um novo conceito de segurança: a Polícia Comunitária, próxima das pessoas, integrada com elas e interagindo com elas …”
Roberto Requião, discurso de posse, 01/01/07
Mentiroso!
Notícias do Jornalismo VIP
Super VIP, diga-se. O cara se acha tão importante que queria tratamento especial.