de Miguel Sanches Neto*
Gostaríamos que tivesse
nascido ao acaso,
de sementes excretadas
por pássaros
a romãzeira do quintal
comprada
na loja de produtos
agropecuários
mas tivemos que esperar
a frágil muda
adotar uma terra
inculta.
Da primeira florada
colhemos as cinco
frutinhas
saciando a fome.
Fome
do que um dia fomos
já que toda romã
vem da infância.
E foi com gula
que rasgamos a fruta
para repartir
seus rubis.
Na nova florada
duplicaram as romãs
que vergam
frágeis ramos.
A primeira delas
rachou logo
e foi invadida
por formigas.
De longe
apenas olhamos
as nove romãs
que ainda restam.
Esperaremos que todas
se desperdicem
ou que alimentem
os bichos?
Mesmo as romãs
viram rotina
neste jardim
rente à vida?
Acordemos cedo
amanhã
e disputemos
róseas romãs,
inventando
alegre vinho
em lábios
ilícitos,
para que insetos
e bichos
não nos tirem
os prêmios
e ao cuspir pelo jardim
sementes insanas
surja de nossas bocas
um pomar de romãs.
*Enviada como mensagem para um Ano Bom