Achei a lua horrorosa naquela noite. Não sabia o motivo. Dava para tomar banho de luz com ela, lembrando da Celly Campello e todos os poetas encantados. A escuridão tinha baixado logo depois do amanhecer. O sol se espatifou ao comando de uma dor no coração que teimava em bater além da capacidade da idade. Os olhos de um caranguejo apareceram na lama do manguezal. Na televisão um homem cobrou a dívida de crack da prostituta com facadas que lhe calaram a súplica pela vida. Por que chorei desamparado ao lado do astronauta na sala branca de 2001 Uma Odisseia no Espaço? Sem pai nem mãe. Eles foram embora antes que eu me aninhasse em seus colos para ensinar o que não tinham recebido e aprendido. Soube que digitalizaram “Viagem à Lua”, do Georges Méliès, mas aqui na terra o foguete não entrou no meu olho direito. Exocet não pediu permissão. Furou e se alojou sem explodir no cipoal da alma.