O possuído pelo Sobrenatural de Almeida morava numa casa ao lado do estádio que ficou apenas na lembrança. Os gols dele, não. Viraram lenda na véspera da nossa bebedeira. Fez quatro em quinze minutos e será lembrado por todas as gerações. O outro, do adversário, tinha uma canhota tão mágica que, soube mais tarde, a explicação só poderia ser pela habilidade de sambar miudinho em cima dos pés pequenos e com o corpo tão cheio de ginga. Os passes eram de trivela, com veneno apenas até a hora de a bola cair açucarada nos pés do companheiro de time. Também bebi muito com ele, profissionalmente, para arrancar um segredo dos bastidores sujos do futebol. Ele não estava metido, mas sabia tudo. Hoje todos estamos de cabelos brancos. Encontrei-os em algumas ocasiões, sempre longe dos estádios, palco dos espetáculos que nos aproximou. Essa bola ninguém rouba de nós.