21:19ZÉ DA SILVA

Gritava com o megafone “salvem as baleias!”, mas em casa torturava a mulher porque ela era rechonchuda. Defendia os direitos humanos dos presos, apesar de nunca ter visto uma penitenciária ou delegacia por dentro – e prendia os filhos depois dos cascudos, tabefes, telefones e proibições que incluíam o ato de se alimentar ou ir ao banheiro na hora em que sentiam vontade. Entre os da sua turma reivindicatória, era um militante atuante em defesa dos fracos e oprimidos, mas um canalha sem caráter nenhum dentro de casa. Um dia foi preso porque a mulher tomou coragem e denunciou os anos de agressões. Fizeram passeata na frente da delegacia até com banda, exigindo que ele fosse solto em nome da liberdade de expressão. Um deputado fez discurso, estudantes universitários organizaram fóruns para debater o caso. A pressão aumentou quando uma entidade internacional entrou na briga. Foi solto. Na primeira noite em casa quebrou os dentes da mulher a marteladas. No dia seguinte uma passeata organizada pelos amigos de sempre soltou pombas brancas da paz em sua homenagem.

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