O cavalo apontou o caminho. Ele se desgarrou da formação dos soldados de chumbo e foi pastar num jardim florido perto da estátua que brilhava ao sol. Acompanhei. Instinto animal ou sou mesmo uma cavalgadura a acreditar no que não existe? Ele comeu quase todo um canteiro de espécies multicoloridas. As orquídeas, não. Respeitou-as como se fossem sagradas. Mesmo assim, saiu dali voando. Eu não! Pétalas trituradas. O gosto amargo me fez lembrar o fel da vida. Desmaiei. Depois, um tubo enfiado corpo adentro pela boca. Disseram que lavaram minhas entranhas. Acreditei. Estava vazio, dolorido, como se tivesse sido pisoteado por aquele cavalo. Ele era negro, crinas e rabo curtos. Na cortina entreaberta da janela do hospital, um faixo de luz, poeira suspensa. Adormeço. Penso ouvir a música. Porque meu coração é uma ilha, a centenas de milhas daqui – e o mar é verde de doer os olhos.