18:44ZÉ DA SILVA

Os olhos verdes estanhados. A luz fria do espelho do banheiro. Duas da madrugada. Finalmente me olhei. Tive medo. Havia um bicho ali. Arregalei mais. São bonitos. Seriam do assassino que um dia desconfiei esconder? Anjo doido? Anjo torto? O resto da casa no silêncio da escuridão. Eu e ele colados pela visão. Imóveis. Não há como desviar, apagar a luz, fechar as janelas da alma para tentar se perder no nada. Estanhados. Felino? O medo de Dersu Uzala com o tigre a rondar a barraca na floresta. Kurozawa. Sonhos. Mas isso não é sonho. São meus estas duas esferas que parecem prontas a sair do espelho e penetrar no real. Pisco, finalmente. Não, não era alucinação. O encontro. Tive medo e agora não tenho mais. Porque tudo ficou suave como o frescor que entra pela janela do banheiro. Deus e o Diabo, o Bem e o Mal – no encontro antes sempre adiado.

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