19:44ZÉ DA SILVA

De olho de vidro ele só conhecia a piada da puta francesa que cantava a Marselhesa enquanto boqueteava. Depois de anos descobriu que o pulha que tinha prometido lhe dar tapa e tiro da cara era portador. Quando sou mau, sou muito melhor, ensinou Mae West. Ele dizia que não mau, mas vingança fazia parte do seu DNA. Planejou, sem remorso, o troco, que veio anos depois quando o outro morreu feito porco e gritando igual a macaco. Não foram tiros de misericórdia – mas a vida escrota cobrando a fatura final. Na madrugada fria, entrou na capela do velório, fechada depois da meia-noite para que ladrões não roubassem os amigos do ladrão. De canivete arrancou a bola de gude negra como a alma dos sem caráter. Cuspiu no buraco que ficou – gosma com catarro envenenado pelo ódio acumulado. Desinfetou o olho e o guardou num recipiente de material próprio para exame de fezes. Quando quer desopilar, tira dali e fica chutando contra uma parede. Nessa hora surgem as asas do anjo vingador e as trombetas do céu, acompanhadas de um coro de mil mortos, para entoar a Aleluia de Handel.

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