Quem ama o futebol, como Tostão, está de luto porque ontem morreu Zé Carlos, aos 73 anos. Mais do que fez em campo ao ser protagonista daquele seu Cruzeiro, que tinha Raul, Natal, Dirceu Lopes e o atual melhor cronista esportivo do país, e do Guarani campeão de 1978, ao lado de Zenon, Renato, Renato, Careca e Bozó, este Zé era cativante ao extremo na sua tranquilidade, mansidão ao falar, bondade. O signatário teve a honra de conhecê-lo já como treinador, no Criciuma (SC), onde também foi campeão. Como todo sábio, não precisava demonstrar humildade e jamais teve o mínimo traço de arrogância. Saber, assim, de repente, não só sobre sua morte, mas também que sofria há anos por conta de um AVC e que precisava da ajuda dos amigos para tratamento e fisioterapia, machuca, mas é a realidade de um país onde o ídolo de ontem desaparece como uma folha seca levada pelo tempo. Aqui no Paraná ele jogou no Maringá no início dos anos 80. Com certeza todos os que jogaram ou trabalharam com ele nunca o esqueceram. A voz tranquila será sempre ouvida quando vier a lembrança dele em campo, onde era reverenciado pela bola, como só acontece com os grandes craques.
Leia mais sobre o ídolo
Morre Zé Carlos, ídolo do Cruzeiro, campeão da Taça Brasil e da Libertadores
Ex-volante celeste já vinha com problemas de saúde e faleceu aos 73 anos
Faleceu na manhã desta terça-feira o ex-volante José Carlos Bernardo, o Zé Carlos, aos 73 anos. O ídolo do Cruzeiro já vinha com a saúde debilitada nos últimos anos em razão de um acidente vascular cerebral (AVC). Ele passou os últimos meses internado no Hospital do Barreiro e morreu por falência múltipla dos órgãos. Pela Raposa, Zé Carlos venceu a Copa Libertadores de 1976 e a Taça Brasil de 1966. O ex-jogador será velado a partir das 18h no Cemitério Parque da Colina, Bairro Nova Cintra, Região Oeste de Belo Horizonte. O sepultamento ocorrerá às 10h desta quarta.
Zé Carlos fez parte de uma época de ouro do Cruzeiro. Venceu nove Campeonatos Mineiros, sendo dois tetras: um na década de 1960 (1966, 1967, 1968 e 1969) e outro nos anos 1970 (1972, 1973, 1974 e 1975), além da conquista de 1977. Fazia parte do time histórico que goleou o Santos de Pelé em 1966, mas ainda não era titular. Em 1976, na primeira conquista da América, já era o dono do meio-campo celeste. Com o time estrelado, também foi vice dos Brasileiros de 1974 e 1975, vencidos por Vasco e Internacional, respectivamente.
Zé Carlos é o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa celeste: 633 jogos. Os 87 gols marcados o deixam na 20ª posição entre os artilheiros de todos os tempos do clube, ao lado do ex-atacante Abelardo, que morreu em dezembro de 2016 aos 90 anos.
Natural de Juiz de Fora, Zé Carlos foi revelado pelo Sport Club Juiz de Fora. Como a cidade da Zona da Mata mineira é próxima ao Rio de Janeiro, ele foi para o Fluminense fazer um teste. Lá, encontrou o amigo Procópio.
“Conheci o Zé Carlos no Fluminense. Ele foi do time do Sport Club Juiz de Fora para o Fluminense fazer um teste e conseguiu passar. Mas, naquela época, o Fluminense estava sem dinheiro para poder pagar o passe dele. Por isso, ele acabou no Cruzeiro a pedido do presidente Felício Brandi. Depois, fui para o Cruzeiro e tive o privilégio de jogar ao lado dele”, afirmou Procópio, que relembra uma história marcante ao lado do amigo.
“Não esqueço de quando voltei a jogar depois de cinco anos, já velho, com 33 anos, recuperado de uma lesão. Na minha estreia, ele e Perfumo, dois que já nos deixaram, me apoiaram muito. Faziam a minha cobertura, me deram apoio moral. Correção, amizade e lealdade. Uma grande perda”, disse o ex-zagueiro.
Zé Carlos era um dos jogadores cotados para disputar a Copa do Mundo de 1970, mas acabou fora da lista. Com a camisa verde-amarela, ele participou de oito jogos e marcou dois gols. Depois de deixar o Cruzeiro, Zé Carlos foi campeão brasileiro com o Guarani, em 1978. Já no fim da carreira, vestiu a camisa do Villa Nova e teve atuação de destaque num duelo com o Atlético, conforme lembrou matéria publicada pelo Estado de Minas.
Doença
O craque foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. Ele vivia em um apartamento, em Contagem, cuidado pela esposa, fiel escudeira, Eunice Braga Tolentino Bernardo, a Nice, de 58 anos.
O drama de Zé Carlos começou há cerca de seis anos. No entanto, somente há três a doença chegou ao ponto mais crítico, quando o ex-jogador ficou acamado. Ele deixou três filhos, Frederico, de 35 anos, vendedor; Gustavo, de 32, que mora e trabalha nos EUA; e Thiago, de 33, desempregado.
José Carlos Bernardo
Nascimento: 28/4/1945, em Juiz de Fora
No Cruzeiro: de 1965 a 1978
No Guarani: 1978
No Villa Nova: 1979
Principais títulos
Pelo Cruzeiro
633 partidas
(2º jogador que mais vestiu a camisa celeste)
Campeão da Taça Brasil’1966
Eneacampeão mineiro (1966/67/68/69/72/73/74/75/77)
Campeão da Libertadores’1976
Pelo Guarani
Campeão Brasileiro’1978
Times que defendeu
Sport (Juiz de Fora)
Cruzeiro
Guarani
Grêmio Maringá
Uberaba
Villa Nova
Sem dúvida – Zé Carlos encantou nossa geração numa época sem marketing mas com muito amor a camisa – bem diferente dos dias atuais. Pelo que fez, pelo seu estílo, merecia bem mais ao final da vida. Mais um caso neste país sem memória.