6:51Tucanos em polvorosa

Por Ivan Schmidt

O senador Aécio Neves, derrotado por Dilma Rousseff em 2014 na eleição para a presidência da República, se tivesse resistido às intempéries na planície, como esperavam nove entre dez de seus mais de 50 milhões de eleitores, seria o nome certo para a presidência em 2018.

Entretanto, o neto de Tancredo acabou demonstrando uma descabida inaptidão para a prática política, a ponto de ver-se enredado numa trama, na sua visão particular urdida por Joesley Batista, um dos donos da Friboi, a quem agora rotula de “meliante”.

Na gravação feita pelo próprio Joesley, em meio a uma catarata de palavrões e agressões à língua portuguesa, ouve-se Aécio se referir à necessidade de R$ 2 milhões para custear despesas com seu advogado de defesa, além da sugestão da venda do apartamento de sua mãe no Rio de Janeiro, como uma das formas de facilitar o negócio.

O senador tem-se esmerado em esclarecer à opinião pública que se tratava apenas de um pedido de empréstimo – com a garantia real do apartamento no Leblon – fato explorado criminosamente por Joesley, por razões ainda obscuras e encobertas dos simples mortais.

Ora, se era apenas um pedido de empréstimo para atender a uma emergência pessoal – dinheiro para pagar o advogado – não existia a menor razão para ser feito em segredo como se fosse um pecado mortal, a ponto do arguto magarefe goiano gravar a conversa com o político mineiro.

E mais, se os R$ 2 milhões tivessem sido realmente emprestados bastaria um depósito na conta de Aécio na agência do Banco do Brasil no Senado, e não aquela operação de entrega da grana a um primo do senador e o transporte para Belo Horizonte por via rodoviária. Tudo documentado pela filmagem realizada por agentes da Polícia Federal.

E, em sendo empréstimo, porque cargas d’água o dinheiro foi entregue primeiro ao senador Zezé Perrela (PSDB), ex-presidente do Cruzeiro e amigo íntimo de Aécio?

A situação de Aécio ficou tão dramática que nem seu partido quer devolver-lhe a presidência nacional da qual está licenciado. O presidente interino, senador Tasso Jereissati, tem repetido o mantra de que o colega de bancada perdeu todas as credenciais para retornar ao cargo, do qual daria melhor exemplo aos tucanos em revoada desconcertante se renunciasse.

Não bastasse a discordância doméstica, o mineiro ainda deverá enfrentar a provável ação patrocinada pelo PT junto à Comissão de Ética do Senado, pedindo a cassação do mandato de Aécio, que também não estará livre de hipotético cerco da Lava Jato e do próprio Supremo Tribunal Federal.

Herdeiro de um sobrenome ilustre da política nacional, o avô materno Tancredo Neves foi personagem marcante na história desde o ciclo varguista até a eleição pelo colégio eleitoral e a morte.

O descendente Aécio não herdou, contudo, o proverbial discernimento do patriarca mineiro, desperdiçando (a meu ver) uma eleição quase certa à presidência no ano que vem.

O vácuo escancarado por Aécio, tucano baleado em pleno voo, abre espaço para as pirotecnias de Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e o mais recente parvenu da política brasileira, João Dória, os nomes de maior evidência em termos da sucessão presidencial.

Resta saber se políticos de atuação moderada e até certo ponto conservadora como Geraldo Alckmin, Marina Silva e o senador paranaense Álvaro Dias, que também despertam a atenção dos eleitores, têm bom estoque de garrafas pra vender.

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