15:45Sem Joaquim Barbosa, outros juízes podem quebrar jogo viciado da eleição

por Elio Gaspari

Para quem foi para a rua ou bateu panela, o que a oligarquia política lhe está oferecendo para a eleição de 2018 é mais do mesmo, ou pior. A boa notícia vem do repórter Raymundo Costa: o ex-ministro Joaquim Barbosa disse aos dirigentes do PSB que, até janeiro, decidirá se aceita o convite para disputar a Presidência da República. Pelo cheiro da brilhantina, ele quer ser candidato.

A candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal rompe a lógica maldita que os oligarcas estão montando. Ele não tem experiência partidária, o que é uma virtude.

Nunca participou de governos, o que não chega a ser defeito. Falta-lhe a experiência de Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Barbosa ficou 11 anos no Supremo Tribunal e notabilizou-se por ter desenhado o código genético do mensalão, o escândalo que levou poderosos políticos e empresários para a cadeia. Foi graças ao julgamento do mensalão que figuras intocáveis foram para a penitenciária. Desse DNA saiu a Lava Jato.

O ministro meteu-se em memoráveis bate-bocas com Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Mostrou-se um arbitrário pedindo a transferência de uma servidora do tribunal com 12 anos de serviço pelo crime de ser casada com um jornalista a quem insultara. Esse tipo de pavio poderá levá-lo a uma autocombustão diante das pressões de uma campanha presidencial.

Decidindo esperar até janeiro, Barbosa indica que poderá confirmar sua candidatura antes de uma eventual condenação de Lula na segunda instância. Aceitando o convite do PSB, o ex-ministro aninha-se no partido em que estava o candidato Eduardo Campos até a manhã de sua morte, na queda do seu jatinho de campanha, em 2014.

Outro dia Aécio Neves disse que uma candidatura como a de Luciano Huck significará a “falência da política”. Pode ter razão, mas será a falência produzida por ele, Aécio, e não por Huck.

Admitindo-se que Barbosa resolva ficar fora da disputa, é possível que o ministro Luís Roberto Barroso entre na raia. Ele não tem a marca do ex-presidente do STF, mas preenche o requisito da ficha limpa de quem nunca se meteu em política eleitoral nem com governos.

Além desses dois magistrados, há outro nome, o do juiz Sergio Moro. Ele já negou que pretenda concorrer a seja lá o que for e sempre apresentou argumentos sólidos.

Especular em torno de uma candidatura de Moro é algo como viajar num lance de ficção política.

Imagine-se Moro em fevereiro do ano que vem, em sua poltrona de casa, em Curitiba. Ele liga a televisão e vê os candidatos à Presidência. Moro sabe como a oligarquia valeu-se da máquina do governo de Michel Temer para jogar água no chope da Lava Jato. Poderá prever o que acontecerá com a posse de um novo presidente daquele naipe. O juiz que mudou a cara da política nacional verá que, continuando na poltrona, seu legado será equivalente ao da Olimpíada do doutor Eduardo Paes.

Moro corre risco de entrar na História pelo que fez e de sair pelo que não quis fazer. Dante Alighieri colocou no vestíbulo do inferno o eremita que, uma vez eleito Papa, decidiu renunciar. (Pelo menos foi essa a história que contaram ao poeta.)

*Publicado na Folha de S.Paulo

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3 ideias sobre “Sem Joaquim Barbosa, outros juízes podem quebrar jogo viciado da eleição

  1. Sergio Silvestre

    Isso aqui já é republica dos magistrados(por isso é de bananas)só falta sacramentar ,pronto.

  2. Uncle Joe

    Só faltava esta para tornar a palhaçada mais engraçada do que já está. JB, Luciano Hulck, Bolsonaro, quem está faltando para completar mais este espetáculo mambembe? Ninguém mais porque o palhaço de sempre já está em campanha desde que desembarcou do poder há quase 10 anos atrás. Será que se pedirmos com jeitinho FHC não se anima de participar de mais esta comédia bufa?

  3. joao

    Este Brasil sempre foi assim, nasceu assim, e se algum dia for diferente será irreconhecível. sentimos vergonha e inferiorizados em relação aos demais paises, fundamentalmente, pelos tipos de políticos e partidos, assemelham com quadrilhas e organizações criminosas, basta ver o número de partidos e políticos envolvidos com condutas evidentemente criminosas e acobertados, paziguados. Portanto, quando tudo for diferente, ao ponto de resgatarmos o orgulho de ser brasileiro, estaremos falando outro idioma. assim seja.

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