17:12Quando o frágil se fez forte

por Gerson Guelmann no blog …e tudo acabou em Sfiha

O dia 7 de fevereiro de 1965 marcou minha vida e a de meus irmãos Gilberto e Gilson. O acidente que vitimou nossos pais e as 2 irmãs menores mudou o mundo para nós 3.

Das lembranças impregnadas na retina e no coração a maisvida é a do meu próprio choro, pelo Gilson. Eu recém-havia completado 17 anos e o Gilberto logo faria 19, mas o Gilson, com 13, parecia frágil e incapaz de resistir ao trauma.

Eu me julgava forte para aguentar a dor dilacerante e aniquiladora, mas o Gilson, não, ele não suportaria. Escapismo?

O tempo revelou como estava enganado.

Ainda não havia lido “O Velho e o Mar” do Hemingway:

Preciso evitar que a dor dele aumente (pensou o velho sobre o peixe). A minha, não importa. A minha, eu posso suportar. Mas a dor dele pode enlouquecê-lo.

De início fomos cuidados em nossa casa pelos tios Nena e Moisés, e depois recebemos abrigo na casa deles, com os primos-mais-que-irmãos Marcelo, Deborah e Claudia. Hoje sabemos como eles foram importantes para todos nós na superação das dificuldades.

Guiado pelo tio Moises, já aos 15 anos o Gilson começou a trabalhar na Bergerson/Big Ben.

A visão empreendedora do nosso tio, cuja história de vida é também um caminho de superação, permitiu que o Gilson pudesse desenvolver o potencial criativo e fosse reconhecido como um dos mais competentes profissionais dessa área no Brasil.

A Bergerson/Big Ben tornou-se uma referência no país. Com o desaparecimento do tio Moises o Marcelo assumiu a condução dos negócios, secundado pelas irmãs. Os três honram com competência e honestidade o trabalho e o nome do pai.

Hoje o Gilson se despede desse que foi seu único emprego. Ele fez circular entre os amigos a sua despedida:

“Meus caros amigos:

Hoje é meu último dia de Bergerson, e amanhã será o 1° dia do resto da minha vida.

Escrevo isto com o coração pesado e muita tristeza pelo que deixo para trás, mas, ao mesmo tempo, apesar do temor, tenho a esperança das coisas boas que terei à frente. Afinal, como li em “Vida Assistida” de Tess Gerritsen, “Sonhos nada têm a ver com uma velhice confortável seguida de uma morte confortável. O sonho tem a ver com a vida. Com começos, e não fins”.

Vai ser difícil acordar amanhã, se é que vou dormir, e não seguir o mesmo caminho dos últimos 50 anos.

Muitas coisas passam pela minha cabeça neste momento. Pessoas estimadas que deixarei para trás, ocasiões especiais, muitas vitórias, pouquíssimas decepções e, principalmente, a saudade do começo de tudo na pequena loja da Ébano Pereira.

Aquela foi a loja com o maior coração do mundo, onde dei os primeiros passos da minha vida profissional como “sobrinho do patrão”. Fui o 1° office-boy da Empresa, crediarista, cobrança, vendedor, comprador e tantas outras coisas, até chegar na posição que hoje ocupo. Foi uma longa carreira, e como vocês podem imaginar, muitas histórias para contar. São tantas que eu precisaria de mais uns 50 anos para relatar.

Considero-me privilegiado por ter trabalhado aqui tantos anos, e tenho certeza de que construí uma história.

Não quero nominar ninguém, porque sei que cometeria injustiça com muitos, mas não posso deixar de agradecer a todos meus ex e atuais colegas de trabalho. Sua ajuda em todos os momentos foi inestimável. Vocês com certeza tiveram muita participação e foram a razão do meu sucesso.

Agradeço aos meus prezados e estimados Fabricantes, Fornecedores e Representantes, que em todos estes anos ajudaram a construir a Big Ben, com conduta irrepreensível e muita amizade. Com seu companheirismo vocês ajudaram a alavancar a Big Ben.

Cabe também um agradecimento aos clientes que viraram amigos e aos amigos que também passaram a ser clientes. A confiança e o prestígio de vocês foram muito importantes.

Ao Marcelo, os meus agradecimentos pela confiança e o respeito demonstrado por mim ao longo de todos estes anos.

Ao falar no Marcelo, não posso deixar de citar meu tio e mentor Moisés (Moiche). Foi meu professor e com ele dei meus primeiros passos na profissão. Foi uma pessoa inesquecível, que até hoje faz parte dos meus pensamentos. E ao citar ambos, é inevitável expressar minha gratidão eterna ao resto da família: minha tia Nena e minhas primas Deborah e Cláudia. A casa de vocês foi o meu lar durante muitos anos e a Bergerson foi a extensão da minha própria casa.

Sou grato demais à Bergerson pelo que me deu. E tenham certeza que gratidão no meu vocabulário não é uma coisa efêmera.

E por último um agradecimento especial à minha Família, na pessoa da Sonia, mulher da minha vida, Esposa, Mãe dos meus Filhos e Avó dos meus Netos. Sobre ela o que de melhor posso dizer é que, com certeza, os Anjos devem estar até hoje procurando um deles que caiu do céu diretamente em minha vida.

Gilson Guelmann

E assim ele assume em tempo integral a função de avô do Felipe (6 anos) e dos gêmeos Rafael e Daniel (1 ano). Paralelamente vai continuasendo o pai do Guilherme, que é mais do que Especial, é dono do abraço mais gostoso do Universo, das Médicas-Veterinárias Gilian e Gisah, tão suaves que escolheram cuidar de bichos para aumentar a doçura.

Pena, mesmo, eu só tenho da minha cunhada Sonia. Ela já sabe, e agora digo para todos: eu não a amo menos do que amaria minhas irmãs se vivas fossem. E ela o merece ter um aposentado levantando tampa de panela para saber o que vai ter para o almoço.

frágil se fez forte, se fez exemplo, se fez orgulho da família.

Longa vida, Gilson!

 

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Uma ideia sobre “Quando o frágil se fez forte

  1. manoel afonso

    Caro colega…Posso estar enganado, mas o cidadão em questão seria de uma família que foi vitima de um acidente terrível na rodovia São Paulo Curitiba. O saudoso publicitário JJ publicou a historia em seu blog. Fiquei impressionado e publiquei inclusive e guardei o texto. Fica a sugestão para você publicar aquela matéria desta família. Forte abraço

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