11:29Qual é o mais obsceno?

Por Suzana Bandeira

O ministro Sérgio Sá Leitão, da Cultura, faltou pouco para a briga física com deputados federais que o convidaram para audiência pública sobre a moralidade nos museus, agora que o assunto esquentou com a exposição do Queermuseum, em Porto Alegre, e a do MASP em São Paulo. Em Porto Alegre a mostra foi fechada porque se disse que pregava a zoofilia e a pedofilia e em São Paulo pior ainda, com a performance do sujeito de genitália exposta para ser tocada por crianças. Sou mãe e quase avó e achei um absurdo as duas exposições. Sei que os críticos e os entendidos dizem que a arte deve ousar e quebrar tabus, como acontece desde o tempo das esculturas gregas de homens e mulheres nus. Quem for ao Vaticano vai ver muitas dessas esculturas, requisitadas pelos papas, que depois mandavam cortar o membro dos homens e incluir folhas de parreira neles e nas mulheres.

Se a arte transgride ela pode ser o veículo para o vício, como o da pedofilia quando permite que crianças toquem a genitália do artista performático. Nem que fosse filho do artista ou que estivessem pai e mãe presentes. Isso tem limites. Assim como tem limites a de Porto Alegre, com a palavra ‘vagina’ sobre uma hóstia. Nem vou fazer brincadeira com isso, pois quem gosta delas é o colega do Insulto Diário. Os artistas queriam chocar, como se diz que é objetivo da arte, e conseguiram. Mesmo sendo conservador (a), mesmo não concordando com a proposta dos artistas, pior foi a audiência pública na câmara dos deputados. A propósito de discutir as duas exposições, houve xingamento ao ministro, que se exaltou quando alguém sugeriu que a mostra de Porto Alegre seria como chamar a mãe dele de ‘puta’. Deputados se ameaçaram tentaram se socar, e no melhor momento o presidente da sessão ameaçou encerrá-la para que eles fossem brigar direito. De arte, cultura e política cultural nada saiu. Mas aconteceu a habitual baixaria do Congresso nacional.

Pena que a audiência pública com o ministro não será exposta em mostra paralela à das duas exposições ditas obscenas, pornográficas, desrespeitosas, seja o que for. Ainda que sejamos conservadores, como é meu caso, o comportamento dos deputados foi mais obsceno, pornográfico e desrespeitoso que qualquer mostra, obscena, pornográfica ou desrespeitosa que possa ser. Tenho que reconhecer que os deputados estavam ali no seu papel expressando não só sua opinião e visão de mundo, que é a mesma dos eleitores que os elegeram, em grande parte evangélicos. Faz parte do jogo parlamentar. O que chama a atenção de nós, mães, pais, conservadores e responsáveis, é a interessante noção do obsceno e pornográfico dos deputados: a venda de proteção a Michel Temer e a venda de votos contra Dilma não é vista como obscena, pornográfica e desrespeitosa.

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