8:24Por um título ao maestro Waltel Branco

Da coluna do jornalista Aroldo Murá (www.icnews.com.br), íntegra da  proposta de Ney José de Freitas, ex-presidente do TRT e integrante do Conselho Nacional do Justiça, ao reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, para que se conceda ao maestro Waltel Branco o título de “doutor honoris causa” desta centenário instituição de ensino:

“Magníssimo professor doutor Zaki Akel Sobrinho, Magnífico reitor da Universidade Federal do Paraná.

Para nós, paranaenses, a Universidade Federal é motivo de orgulho e poucos gestos são tão profundamente acatados, entre nós, quanto o reconhecimento que essa instituição confere àqueles que identifica como luminares nas Ciências e nas Artes. A sociedade do Paraná confia na sua universidade e aplaude as justas distinções que confere aos que prestaram serviços relevantes e que honraram, mundo afora, o nome do Paraná.

Em nossa mais antiga cidade, Paranaguá, nasceu, em 1929, um menino que se tornaria paradigma do estudo e da dedicação à música, e que se faria doutor em sua arte. Esse menino, hoje com 82 anos, é reverenciado por artistas em todo o mundo, influenciou várias gerações, em muitos países, e inspira jovens compositores e instrumentistas que têm o privilégio de com ele conviverem Curitiba. Poucosseriam tão merecedores quanto esse parnanguara, Waltel Branco, do título de doutor honoris causa da UFPR. Convencido da justiça e da oportunidade desse gesto, tomo a liberdade de sugeri-lo.”

“Creditam-se a Waltel Branco milhares de composições musicais, além do trabalho como arranjador e participações em incontáveis shows, LPs e CDs. Inventariar com precisão o seu trabalho seria uma tarefa ciclópica, tais a longevidade, a intensidade e a amplitude que apresentam. Depois de concluído o levantamento, ainda seria necessário reagrupar uma volumosa produção assinada com quase uma dezena de pseudônimos.

Waltel começou a estudar violão ainda criança, em Curitiba, e nunca se contentou em ser virtuose; foi estudante dedicado durante sete décadas e conquistou a admiração unânime dos melhores músicos de seu tempo. Gravou mais de 20 discos e participou de mais de 1.000 outros, de artistas populares e eruditos, em diferentes países: de Elis Regina a Nathalie Cole, de João Gilberto a Mercedes Sosa, de Cazuza a Odair José, de Roberto Carlos a Dorival Caymmi, Jacob do Bandolin, Cartola, Maria Creuza, Tim Maia, Gal Costa, Djavan, Astor Piazzola, Românticos de Cuba, Orquestra Brasileira de Espetáculos, Alceu Valença, Ney Matogrosso, Carlinhos Vergueiro, João Bosco, Sérgio Mendes, Zé Ramalho, Peri Ribeiro, Tom Jobim, Henry Mancini, Dizzy Gillespie, Baden Powell, Elizeth Cardoso. É um mestre que soube ser discípulo. Foi aluno de Andrés Segovia, o nome referencial do violão erudito moderno, e antes dele do maestro Bento Mossurunga, Padre José Penalva, Jorge Koshag, Sanley Wilson, Iberê Gomes Grosso, Othon Saleiro, Sal Salvador e do maestro Alceo Bocchino.”

“Parnanguara e universal, Waltel percorreu com sua arte a maior parte da Europa, a Índia, os Estados Unidos, Uruguai e Cuba, onde viveu por dois anos. Quando Fidel Castro decidiu iniciar um resgate da música cubana, foi a ele que chamaram. Foi um dos violinistas precursores da Bossa Nova. Atuou com Henry Mancini na elaboração das trilhas de vários filmes, inclusive a célebre e polêmica Pantera-Cor-de-Rosa, cujo arranjo original Waltel reivindica, e a partir de 1963 compôs, com Radamés Gnatalli, César Guerra Peixe e Guido de Moraes, o grupo responsável pela qualidade musical da Rede Globo.”

Seus arranjos fazem parte do imaginário de várias gerações de brasileiros, que os ouviram ao fundo das imagens de O Bem Amado, Morte e Vida Severina, Cavalo de Aço, Senhora, A Moreninha, O Feijão e o Sonho, Irmãos Coragem, Os Ossos do Barão, O Bofe, Escrava Isaura, Selva de Pedra, O Semideus, Roque Santeiro, À Sombra dos Laranjais, Amizade Colorida, Pirlimpimpim e muitas outras novelas e minisséries de TV. De acordo com Cláudio Menandro, é de Waltel “o entoar cadenciado do coro feminino, com seu lerê, lerê que remete às negras escravas, às senzalas, terreiros e pelourinhos”, na introdução de “Retirantes”, de Dorival Caymmi,em Escrava Isaura, arranjo que “acabou se tornando mais popular que a própria música”.

Estava na estréia do Teatro Guaira, em 1974, com o espetáculo Paraná de Todas as Gentes, escrito por Adherbal Fortes de Sá e dirigido por Maurício Távora, e nas primeiras gravações da “black music” no Brasil, com os arranjos do LP de estréia de Tim Maia (1970).

“ (Waltel) Lecionou Harmonia e Técnica Instrumental na Universidade Livre da Música,em São Paulo, e atuou como professor da Oficina de Música de Curitiba e consultor do Conservatório de Música Popular Brasileira. A mais importante instituição de ensino de música erudita do Paraná, a Escola de Música e Belas Artes, o homenageou em 2008, durante o II Simpósio de Violão, pela sua importância como compositor, e as cidades de Curitiba e Ponta Grossa lhe conferiram títulos de Cidadão Honorário. Em 2004, recebeu a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro, e artistas populares e eruditos paranaenses gravitam em torno dele de forma ao mesmo tempo reverente e familiar. Waltel é um doutor em música, que estudou, dominou e aperfeiçoou a técnica do violão, o instrumento musical mais querido do povo de nosso País. Reconhecer sua maestria é uma oportunidade rara de fazer justiça ao gênio brasileiro e à arte do Paraná.”

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