7:13Poderá Lula ser candidato?

por André Singer

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de adiar o julgamento da chapa comandada por Dilma Rousseff em 2014 aumenta as chances de que Michael Temer fique no cargo até o final de 2018. Penso que os ministros fizeram uma opção política, entendendo ser difícil derrubar um presidente da República a partir de plenário dedicado a fiscalizar procedimentos eleitorais. Com isso, o próximo capítulo crucial da crise passa a ser o veredito a respeito da candidatura Lula.

No lusco-fusco em que nos encontramos —uma situação que oscila entre a plenitude democrática e surtos de exceção ocasionais, porém frequentes— o destino jurídico do líder petista será chave. Caso Lula possa candidatar-se, a recomposição do tecido democrático esgarçado pelo golpe parlamentar ganha densidade. Na hipótese contrária, a instabilidade tende a se prolongar, abrindo caminho para saídas autoritárias.

Apesar da arbitrariedade do impeachment sem crime de responsabilidade, até aqui os direitos fundamentais não foram suspensos e o último pleito municipal ocorreu em clima de liberdade. Episódios suspeitos, como a invasão a tiros de uma escola do MST, se multiplicam, mas ainda sem caracterizar uma política repressiva do Estado, típica de regimes fechados. Porém, enquanto não houver eleições presidenciais livres e justas, permanecerá uma zona cinzenta, na qual tudo pode acontecer.

Não importa, portanto, que Lula ganhe, e sim que consiga concorrer em igualdade de condições. Estaria, assim, garantida a chance de alternância de poder, elemento indispensável do processo democrático. Como desde 1945 a polarização central no Brasil se dá entre um partido da classe média e um partido popular, a presença de Lula garantiria a representação das principais camadas sociais, uma vez que o PSDB com certeza estará na cédula.

O raciocínio acima nada tem a ver com apoio ao ex-presidente, cujo programa real tende a ser ultramoderado. Tampouco se imiscui nas questões jurídicas que dizem respeito à pessoa física do antigo mandatário.

Apenas expressa a constatação analítica de que o lulismo continua a ter base popular e ninguém o encarna melhor do que o próprio Lula. Convém lembrar que a Constituição de 1988, coroamento da longa redemocratização, expressa o compromisso implícito de que as forças populares não seriam mais alijadas da disputa pela direção do Estado.

Lula encontra-se, como Juscelino Kubitschek após o golpe de 1964, à espera de que o calendário eleitoral se cumpra e ele possa concorrer para promover a conciliação. Naquela ocasião, os militares, por verem JK como a volta do populismo, cancelaram a eleição presidencial direta por um quarto de século. Que 1965 não se repita.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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3 ideias sobre “Poderá Lula ser candidato?

  1. Sergio Silvestre

    Talvez eles completem o golpe punindo o Lula por um suposto triplex ou um sitio e não punam o Serra por exemplo que não sabe explicar milhões de dólares em contas na Suíça e o enriquecimento monstruosos de Verônica e não ganhou isso cantando em “paixões de Cristo,ou o boneco de corda o “DORIA” que fez fortuna sendo piolho do Alkmin,e eu fico aqui imaginando,se o cara ficou milionário orbitando governos paulistas,quanto os outros mais chegados devem ter levado.
    Temos o “bundão” FHC que ninguem bule com ele nem querem saber se seu apto em Paris tem 700 m2 ou é da “minhe case minhe vide”versão francesa,mas esse tá mais pra cova do que pra presidente e tem o amigo do Moro,aquele que dizem ter centenas de milhões em nome da irmã,temos tambem um nazista o tal Bolsonaro que logo vira video game onde aparece o tenentão dando porrada em negros e mulheres.
    Pois é,o Brasil inova sempre,temos agora um monte de bandidos do bem que podem ser presidente,quanto ao Lula e a Dilma,tem certas coisas que me fazem pensar.
    Com todo esse embroglio da Petrobras,onde anda a Graça Foster,ela era presidente da empresa quando estourou os desvios

  2. Jorge

    Comparar Lula com Juscelino seria desconhecer a história se não fosse canalhice ( com permissão do Requião). Lula foi o “garoto do Golberi” que delatava seus cumpanheiros ( ou concorrentes) . No sindicato era o “papa viúvas”.

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