10:31Pensando bem…

Rogério Distéfano

TURCAS DE PRIMEIRA

“A senhora é o esteio do PTB”. Adhail Sprenger Passos fazia sua visita periódica a dona Luiza no brechó do Rebouças. Ele em busca de votos para uma das inúmeras eleições de vereador; ela sempre receptiva, solícita e atenciosa – daí sua influência e os rapapés dos políticos. Dona Luiza não era cabo eleitoral, não senhores, não senhoras, tampouco um coronel de bairro. Dona Luiza vivia o destino do líder natural. Na sala, o retrato de Getúlio Vargas, lamparina acesa no copo com água.

O brechó de dona Luiza, senão dos primeiros em Curitiba, foi dos mais concorridos, o ápice nos anos 1960/1970. Ali circulavam senhoras e mocinhas da redondeza em busca de roupa de domingo, aquelas de missa, casamento e batizado. Ali circulavam senhoras e mocinhas do Centro e bairros bem servidos em busca do dinheiro que obtinham a vender roupas ainda novas. Todas tratadas com igualdade, na vida e no comércio. Todas voltavam no fim do mês, para pagar, receber – e comprar e vender de novo.

Como a xará do magazine, o brechó de Luiza oferecia crédito franco, prestações módicas, nada de promissória, duplicata ou avalista. Nem fio de bigode. Bastavam o nome e sobrenome no caderninho de Luiza, onde vinha a quintessência de dona Luiza. Como o caso da riquinha que explicou o sobrenome: “Sou judia”. Dona Luiza tinha resposta na ponta da língua. “Ora, isso de raça não regula. Tenho aqui umas turcas de primeira”. Turcas e judias, no brechó e na vida de Luiza, todas de primeira.

Ainda vogam na cidade antigas clientes de dona Luiza, respeitáveis avós, algumas até mães de políticos, tanto os normais quanto os eventualmente honestos. Se alguns estão no PTB, não ouso afirmar. Não quero ofender a memória de dona Luiza.

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