5:37O vírus, a inteligência e a dor mais profunda

A teoria de que a “inteligência” humana se desenvolveu com a evolução de um vírus maligno no cérebro não é coisa de maluco. No meio da madrugada, a imagem, antes evitada, do homem segurando os dois filhos no colo, vítimas de um bombardeio com armas químicas numa região da Síria, é a síntese. O horror! O horror mostrado, na essência, com a dor mais profunda que um ser pode sentir. Na tela grande, vieram mais. Não a fotografia congelada de um momento triste demais para esquecer, mas em forma de documento vivo, filmadas, de desespero, de saber que mesmo dentro do inferno que virou o cotidiano naquele lugar longe daqui, do nosso conforto, da nossa segurança abalada apenas com estes pulhas dos noticiários do poder, somos capazes de cometer mais barbáries, numa escalada sem fim – e isso desde que há registro da presença do bicho homem na Terra, o planeta azul manchado sempre de sangue, geralmente sangue dos inocentes perdidos na guerra dos que mandam e fazem qualquer coisa para se manter assim. Os olhos fechados para sempre das duas crianças… Os olhos jorrando lágrimas do pai, que veste um uniforme, duas faixas amarelas em cima do ombro. Matar! Na cena clássica e forte do filme Lawrence da Arábia, Peter O’Toole, no papel do protagonista, descobre para seu próprio horror que, depois tirar a vida de outro ser pela primeira vez, diz, como se tivesse atravessado a fronteira do desconhecido, que sentiu prazer naquilo. O pai dos gêmeos matou alguém antes, naquela paisagem de destruição? Agora ele está no cemitério e a dor, além de aniquilar a alma, estraçalhou seu corpo, fisicamente, como se tivesse sido atingido por um estilhaço de bomba que cortou o ar e o varou no abdome. Está curvado, cercado de cruzes brancas enfiadas na terra e, em cujo ventre, além de cadáveres, abriga o petróleo, verdadeiro motivo da disputa na região que já ceifou 600 mil pessoas e expulsou do país milhares de pessoas. Alguns amigos o ajudam a sair dali. Arrastando os pés ele ainda tem forças para esticar o braço direito e acariciar com a palma da mão a parte de cima das cruzs, o símbolo maior da crença em Jesus Cristo, o que veio para salvar e, com certeza, sempre foi esquecido, apesar do que se lê, vê e ouve por aí. A modernidade, a tecnologia nos jogando uma quantidade de informação tão avassaladora que, em muitos casos, nos torna insensíveis, faz a maioria passar pra frente, na ciranda louca de num toque, num deslizar de dedo na tela, buscar a fofoca, a invasão de privacidade, a falta de educação, a demonstração da vida como ela é para quem tem orgasmos ao ver o comportamento de adultos no palco de um BBB. O vírus… O vírus… É preciso ter esperança para não enlouquecer, escreveu um dia o grande (no tamanho, talento e indignação) Fauto Wolff, um que sucumbiu ao álcool, o anestesiante. Mas ele “apenas” se matou, aos poucos, sem tirar a vida de inocentes que não têm nada a ver com isso, a coisa que acontece em outro tipo de guerra, inclusive aqui, nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza. O vírus… o vírus…

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