18:19O Vazio

por Fernando Muniz

“Chega!”. Abre a bolsa, joga o batom e a carteira dentro e se levanta. Arruma a saia e procura a porta de saída. Nem sabe como vai embora. Pouco importa.

Algumas mesas ao redor notam o movimento e passam a observá-los. Ele se preocupa; será que alguém está gravando? Sai da letargia e vai atrás dela.

“Que é isso? Que maluquice! Vamos conversar!” – seu tom, quase um sussurro, soa meio infantil. “Conversar sobre o quê? Sobre quem? Você?”. Passa pela porta giratória. A brisa da noite a conforta.

“Mas o que foi que eu fiz?! Faz três meses que conseguimos essa reserva”. Ela acena para um táxi. “Não temos a obrigação de nos divertir”. O taxista a ignora. Resolve ir a pé.

“Seja razoável. Entre e peça o seu jantar. Está frio”. Lembra-se que deixou a carteira e as chaves no restaurante. “Não quero”. Passa em sua mente a viagem de comemoração ao seu aniversário – e ele se esqueceu do dia, perdido entre os monumentos.

Ele a alcança e tenta pegar sua mão. “Querida, vamos voltar. Esse rompante já passou dos limites”. Ela sente frio, insegura. Olha para ele. Tenta decifrar o seu rosto – um figurante. Aperta a bolsa, dá as costas e acelera o passo.

“O que foi?” – tenta soar amoroso.

“Nada. Nada!”.

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