10:56O cuspe da realidade

por Ticiana Vasconcelos Silva

Eu não sei caminhar pelo mundo
Mas sei flutuar pela realidade
Com as mãos espalmadas no teto da liberdade
Segurando o peso da crueldade humana
Torcendo para que tudo acabe bem no final
Que não depende de minha vontade
Mas sim de minha lealdade aos mortais
Que não fizeram a sua parte
De me dizer a verdade
E foram covardes a ponto de me iludir
Com amizade, porres, mentiras, festas, sangue na alma
A jorrar a quantidade inexprimível de vaidade e dureza
Pela vida que não se realiza
Pelo fato de trancarem os dedos para não perderem seus anéis de lata
Dinheiro, segredos, hipnose coletiva, gradativa
Ferida que não cala, mas que se fala em sinas, sinais e esquinas
Filosóficas, amorfas, geográficas, coreográficas
De danças em piso quente, rente à retina da alma
Conter meu grito é correr o risco de morrer no exato momento
Em que o pesadelo se transforma na realidade mais pura
E que me segura diante da baixeza dos que me escoram para não cair
Quero partir sem sorrir pela vitória e gargalhar diante da perda da memória
Dos que acreditaram que me enganaram e batizaram o meu Ser
Com seu cuspe ácido, graxo e corrosivo, sem um pingo de prazer.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.