18:51Nunca é tarde para estagiar

Bill-Clinton-and-Monica-Lewinski

Rogério Distéfano

SE ESTE ESPAÇO fosse a Seleções do Reader’s Digest – acho que só Célio Heitor lembra – a coluna teria o título “Meu tipo inesquecível”. No antigo ginásio perpetrei algo do gênero sobre um tio, desses que nos fazem arrepender do pai que tivemos. Não posso dizer o mesmo da personagem de hoje. Além de inesquecível, nosso vínculo trouxe-me o que tenho de melhor na vida. Não propriamente dela, mas pelo que veio junto e é muito pessoal para ser tratado nestas linhas.

Interessa que é inesquecível e dela tanto falo e escrevo que já teria pronta uma biografia  intelectual. Por que inesquecível? Simples; cinco minutos com ela dão munição para cinco horas de comentários. Tem opinião sobre tudo, algumas vezes na raia do estapafúrdio. As opiniões, originais, para os menos avisados soam chocantes. Aos 95, embora todo dia derrube dois gintônicas e meia garrafa do Vinho do Avô, gran cru de Campo Largo,  mantém-se sóbria e lúcida.

O doutor César Kubiak proibiu-me de seguir sua dieta, que começa com ovos, bacon, fatias de manteiga nas torradas, leite integral, duas vezes na semana as ostras defumadas – garantia de enxaqueca em gente normal. Ainda na cama lê o jornal agora fino e estreito e tira munição para os telefonemas. Tem problema com o colunista que se engraçou no epitáfio de seu marido: “Morreu o doutor Fulano, que por sinal era primo do doutor Sicrano”. Não perdoa o “por sinal”. 

Está engasgada com o golpe de Temer. “Armação”, insiste. Acompanha a política dos EUA. “Vivesse lá, votaria no Trump”. Tem fascínio antigo por Bill Clinton. Diz que graças ao charme e inteligência o então presidente não foi impichado no caso da estagiária Mônica Lewinski, a moça do boquete. “Se trabalhasse na Casa Branca eu também cairia na conversa do Clinton”. Na lata da neta. A moça, feita do mesmo material, não perdeu a viagem: “Cairia como, de joelhos?”

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