17:42No Corredor

por Fernando Muniz 

         Durante muitos anos pensei que amar fosse fazer mal a alguém. Machuquei todos ao meu redor. Media o amor das pessoas pelo quanto de dor que pudessem suportar.

Só quando vim para cá comecei a entender o que era o amor e o que não era. E conheci uma pessoa.

Ela me deu o primeiro exemplo do que seria o amor de verdade, porque viu além da minha condição. O fato de eu estar aqui por assassinato, não apenas por ter matado alguém e sim pelo pior tipo de assassinato, o de uma mulher e sua criança, não a assustou.

Mãe e avó das minhas vítimas, ela prestou atenção em mim. Tinha todo o direito de me odiar, mas não me odiou. Ela me deu amor e me ensinou o que é amar. Porque me ouviu.

Ao me escutar, fez com que eu me visse. Senti uma profunda dor, fúria, solidão, arrependimento e vergonha. Chorei. Ao invés de se sentir vingada, ela permaneceu ao meu lado. Chorou comigo, na janela do parlatório. Minha única visita. A última.

Hoje acredito que amar é isso – o quanto de dor que podemos acalentar um do outro. E sei que ela vai estar lá, comigo. Até o fim.

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