7:33Já não se sabe mais quem é quem

por Célio Heitor Guimarães

Antônio Dilson Pereira, o grande cearense que Curitiba em boa hora acolheu, honra-me com a sua leitura semanal. É um dos mais destacados integrantes do Grupo dos 13 (que, nos bons tempos, já chegou a ser dos 15). Além do que, gentil e generoso, ao final de cada leitura, faz questão de enviar-me algumas linhas de incentivo. Sobre a matéria desta quinta-feira (“Lula e a esquerda”), despachou a seguinte mensagem:

“Parabéns. Acrescento: (i) o pior é que Lula recebe aposentadoria como preso político, acho que não ficou trinta dias preso, bom investimento, como diria Millôr Fernandes, enquanto que Zuenir Ventura, ao contrário do Ziraldo e do Cony, recusou o benefício, (ii) a confusão no Brasil é tão grande que nossos políticos sentam-se misturados para que ninguém identifique quem é de direita e de esquerda e (iii) nisto tudo tem um lado que, se não fosse drástico, seria cômico: até o DEM, ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, tem se revelado um grande defensor dos trabalhadores e dos oprimidos…”.

É isso aí, bom Dilson. E a mistura apontada por você remeteu-me, uma vez mais, à história de George Orwell, tantas vezes repetida aqui, em que os animais, liderados pelos porcos, resolveram fazer uma revolução na fazenda para se livrar do domínio do fazendeiro, que os explorava em benefício próprio. Os porcos se julgavam com todos os direitos para ser os líderes do movimento, pois eram os bichos mais sacrificados. O fazendeiro os engordavam para depois transformá-los em linguiça, torresmo, lombo, toucinho, pernil assado…

Só que, no decorrer do processo revolucionário, aconteceram importantes transformações, já que, como diziam os próprios porcos, o processo é histórico, dialético, dinâmico e não linear. E os porcos passaram a ver que o fazendeiro e seus colegas não eram tão maus assim. Havia interesses comuns, capazes de levar a proveitosas alianças. E no final da obra, a derradeira cena é tão terrível quanto significativa: a bicharada, do lado de fora, olha pela janela para dentro da casa do fazendeiro. Lá acontece uma reunião festiva para celebrar um novo marco político de cooperação entre fazendeiros e porcos. E olhando para os fazendeiros e para os porcos, os pobres bichos, de quem os porcos eram representantes, não mais conseguiam identificar quem eram os fazendeiros e quem eram os porcos: os fazendeiros tinham focinhos de porcos e os porcos fumavam charutos como os fazendeiros…

Eis aí o atual cenário político brasileiro!…

P.S. – Honraram-me também com o seu apoio os mestres Zé Beto e Romeu Felipe Bacellar Filho.

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5 ideias sobre “Já não se sabe mais quem é quem

  1. Sergio Silvestre

    Pois é,noto que a vida tem varias passagens e tem também vários tipos de conduta que adotamos,Quando jovem temos ideais revolucionários,entendemos que eles (os velhos) tomam conta da politica,da igreja e do judiciario,sabemos que nos enganam por isso fazemos passeatas e as vezes até lutamos contra eles.
    A medida que o tempo passa vamos nos amodelando ,vamos nos tornando mais participes e ficando em cima do muro.
    Quando envelhecemos viramos tudo dos mesmos,temos ódio de comunistas,acreditamos na salvação de nossas almas penadas,e percorremos os grandes corredores dos nossos solares,comprados com as montanhas de dinheiro que juntamos,ora passando por cima de honra,ora ganhando meio que desonestamente,ora deixando de viver para juntar.
    Nesses corredores,já numa cadeira de rodas,com uma bengala adornada por uma caveira,se levanta e vai até a janela do seu bunker para ver se algum comunista vem se apossar dos seus bens.
    Com sua velha enferrujada espingarda curte o resto dos seus dias .

  2. Jota Agostinho

    Caro Célio.

    Aprecio pessoas inteligentes e sensatas. Por isso, sou seu fã de carteirinha já há muitos anos.
    E você, cada vez melhor. Saúde e paz.

  3. Célio Heitor Guimarães

    Obrigado, Zé Maria e Jota. Somos sim companheiros de jornada há tempo. E isso muito me orgulha. Para o Silvestre, nada posso dizer, porque simplesmente não entendi o comentário dele. Creio que foi muito elevado para o meu parco saber.

  4. Sergio Silvestre

    No próximo Heitor se comentar o livro de R .WYSS,o Robinson Suiço talvez eu fale mais um pouco pra vocês entenderem,por que eu ouço tanto por ai nos blogs e faces da vida um convite para eu ler “a revolução dos bichos”mas eu não considero porcos,cabritos,onças bichos,eu até acho que originalmente eles são os donos da terra,nós somos os intrusos,os rolas-bostas do Universo rsrsrsrs;.

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