11:38Eu sei o que vocês fizeram com a ‘Gazeta do Povo’ no outono passado

Da coluna de Aroldo Murá, no ICnews

Por muito tempo, na redação da ‘Gazeta do Povo’, correu o lema jocoso, típico dos fechamentos de edições de jornais no fim de noite. Altas horas, o telefone tocava. Era quase um coro: “Não me venha com notícia”. Mas se ela viesse, os abnegados a levariam às páginas do jornal. Com sorte, a tempo de alcançar o leitor das bancas ou, ao menos, o assinante.

A versão digital do jornal, desde 1º de junho nos celulares e tablets, não faz nem metade disso. A começar pela escalada de notícias. O que fizeram com a ‘Gazeta’ no outono passado?, indaga-se. Talvez este colunista saiba um pouco.

ESTÁ NO AR, VOCÊ SABIA?

Em abril deste ano, a ‘Gazeta’ anunciou seu novo projeto. Acordaria o novo leitor com notícias quentinhas, tilintando no celular ao lado. Pensar em tal hipótese já torna o nosso mundo mais sombrio, mas vamos lá, trata-se da nova era digital. A ‘Gazeta’, contudo, não cumpriu a promessa. Haveria o “Bom dia”, com as notícias mais relevantes da manhã, o “Boa Tarde” e, a seguir, o “Boa Noite” que, se alguma vez chegou ao celular dos leitores, produziu efeito semelhante ao da TV Brasil: está no ar, mas ninguém vê.

LUTA INGLÓRIA

A ‘Gazeta’ prometeu retomar as seções com nomes tradicionais: Política, Economia, Esporte, etc., sem firulas ou “insights geniais”, deixando-os visíveis na barra horizontal, no alto da página. Não cumpriu. Há uma luta árdua, e inglória, para que o leitor encontre assunto de seu interesse no jornal. A prometida seção ‘República’, guarda-chuva que abrigaria as notícias nacionais, sequer deu o ar da graça. A ‘Gazeta’ prometeu agilidade. Não foi o que se viu.

GUIA DOS CURIOSOS

A página principal do jornal digital é um amontoado sem ordem, sem títulos secundários, sem distinção do que é ou não é importante (exceto, é claro, as manchetes, sempre coladas sobre as fotos). Há, sem dúvida, no novo perfil editorial, uma intenção de transformar o jornal em um “Guia dos Curiosos”, tal o número de listas e curiosidades estrambólicas que surgem em meio à escalada de notícias. Há sempre um “Dez Mais” para quase tudo. É difícil crer que, ao desenvolver a nova página, não se previram módulos diferentes para fotos e títulos diferentes, incluindo-se as manchetes secundárias que chamam para assuntos do mesmo tema.

É difícil crer que um podcast de debate semanal sobre os últimos acontecimentos da política esteja perdido em meio a uma monótona formatação que não distingue lé com cré. A ‘Gazeta’ digital é um pastel de vento que, definitivamente, não convida à leitura. Pelo contrário.

DESCASO COM O DIGITAL

Um experiente jornalista, que acompanhou a revolução da internet, desde a segunda metade dos anos 90, espantou-se com o fato de que o jornal tenha abdicado do papel sem consolidar sua posição no espaço digital. “O mais correto seria que o papel e o digital andassem juntos até que o leitor pudesse prescindir de um ou de outro. É o que vem fazendo os grandes jornais no mundo, No Brasil, não há capital (com exceção de Curitiba), sem um jornal impresso de representatividade”.

DÍVIDA DE R$ 32 MILHÕES

A explicação para tal cenário está no prejuízo acumulado pela ‘Gazeta do Povo’ ao longo de mais de uma década. A tal ponto, que o déficit anual chegou a R$ 32 milhões. Em uma reunião decisiva, os diretores foram obrigados a escolher: seria o fim do impresso ou o fim da marca Gazeta do Povo? A ex-diretora comercial da Gazeta, Luciana Lima, que decidiu dar a si mesma um ano sabático viajando pelo mundo ao lado da família, confidenciou a um amigo: “escolhemos salvar a marca”.

ELE VIROU ONÇA

O rumo que a ‘Gazeta do Povo’ digital toma é nebuloso.

No sábado, o jornalista Celso Nascimento, cuja publicação da coluna foi reduzida aos sábados, por conta dos ‘efeitos deletérios’ do jornalismo em gabinetes de poderosos do momento -, revelou o papel de funcionários e ex-funcionários da secretaria Municipal de Urbanismo, em 2016, para desconstruir o candidato Ney Leprevost, que ameaçava a vitória de Rafael Greca no segundo turno da eleição à prefeitura de Curitiba.

QUEM É O “LUIZ”?

‘A Gazeta’ não fez uma reportagem, não entrevistou o Gaeco, não tentou descobrir quem é o ‘Luiz’, não respondeu aos ataques de Greca que, utilizando-se das redes sociais, citou nominalmente a Gazeta do Povo e o colunista. A ‘onça’ em que o prefeito afirmou ter se transformado poderia (e pode) render uma série de matérias tão valorosa quanto a dos ‘Diários Secretos’, que rendeu o ‘Prêmio Esso’ ao diário paranaense. Mas há uma falta de ‘feeling’ do jornal e talvez uma falta de fôlego que explica, em parte, a sua derrocada.

Bons tempos aqueles em que o jornalismo do Paraná podia contar com trabalho investigativo de alto nível. Havia toda uma equipe envolvida nessa tarefa que dá relevância à imprensa. Um nome paradigmático desse jornalismo que investiga temas “proibidos” é o de Mauri Konig, dos primeiros a serem podados no processo de desmonte da GP, ano passado. Eu sei o que fizeram com a ‘Gazeta’ no outono passado. O leitor também.

 
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4 ideias sobre “Eu sei o que vocês fizeram com a ‘Gazeta do Povo’ no outono passado

  1. Zé Galinha

    O texto do professor Aroldo não citou bem como a gazeta do Povo foi se afundando em dividas… faltou aprofundar mais as causas que levaram o tradicional jornal da família Cunha Pereira adquirir parte desse déficit. São inúmeros os processos que a GP responde, inclusive por parte de seus colunistas esfomeados e vingativos…. Hoje a gazetumba respita por aparelhos graças ao Celso Nascimento e seus devaneios exacerbado e de perseguições.

  2. Zé Ninguém

    kkkk a gazeta finou junto com a sua patrocinadora, aquela infeliz que ficou desempregada no ano passado. Não preciso dar o nome da infeliz, ou preciso?

  3. Ademar Luiz Vieira

    A vontade de ser a maior e a melhor fez, com que a gazeta se aliasse a velhos inimigos do saudoso dr.Francisco.
    Os filhos os quais foram criados a totalmente fora da realidade e como diz um conhecido dos paranaenses ” piás de prédios”
    não souberam administrar ou como dizem na praça Carlos Gomes, deixaram os ” amigos” usar o jornal para atingir as pessoas que pensam o contrário.
    É uma grande perda para o Paraná mas, como se diz
    ELES MERECIAM.

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