7:00Ela e ele ao volante

por Célio Heitor Guimarães

 

Ah, esses gaúchos!… Na prosa e na escrita, são uma parada. Eu já era fã de carteirinha de Luis Fernando Veríssimo, de Mário Quintana, de Scliar, de Lupicínio, de Orígenes, de Josué Guimarães, de Dyonélio Machado, de Cyro Martins e de tantos outros, além, por certo, do saudoso Erico, pai de Luis Fernando, que sempre foi e sempre será o meu autor favorito.

Recentemente, descobri Martha Medeiros e David Coimbra. David é aquele cronista que mandou o filho de seis anos tirar o cavalinho dele da chuva e se deu mal com o conselho. Lembram-se do episódio, reproduzido aqui? Martha, de quem também já lhes falei, é tão talentosa quanto David e é sempre um prazer ler (e reler) os textos dela. É uma brilhante narradora do cotidiano, capaz de transformar em pérola o assunto mais trivial e traçar, com graça e tempero, o retrato da época em que vivemos.

Em crônica de algum tempo atrás, Martha Medeiros faz um comparativo entre a mulher-motorista e o homem-motorista. Vale a pena reproduzi-la, em homenagem à autora:

“O carro da frente faz a curva em baixíssima velocidade. O motorista do carro de trás reclama: ‘só podia ser mulher!’ Óbvio”.

Martha afirma que não é preciso recorrer às estatísticas – “todas a nosso favor” –, para confirmar que elas, as mulheres, dirigem melhor, especialmente por serem menos onipotentes.

Argumenta: “Sabemos estacionar entre dois carros. Acionamos regularmente o pisca-pisca. Usamos os retrovisores, todos os três. Reduzimos diante de um quebra-molas. Exatamente como fazem os homens, porém com uma vantagem: estamos livres de qualquer comparação sexual com o desempenho do automóvel”.

Troca a marcha e vai em frente: “Os homens dirigem bem, logicamente, mas o carro, para alguns deles, não é apenas um meio de transporte, é também uma extensão da personalidade, pra não dizer outra coisa. É aí que está o perigo constante. Homens ultrapassam em faixa contínua. Dirigem rápido. Acham babaquice reduzir na esquina se a preferencial é deles. Colam na traseira do carro da frente. São machos, tchê. Não vão andar por aí feito mulherzinhas. Mulherzinhas dão batidinhas. Arranhõezinhos. Raspõezinhos. Elas não sabem o que é um acidente de verdade”.

Acelera um pouco mais e garante que as mulheres costumam ser mais responsáveis nos quesitos que realmente importam: controle da velocidade, respeito às leis e direção defensiva. Mas é capaz de engatar uma reduzida para reconhecer que as mulheres bobeiam no detalhe:

“Só lembramos duas quadras adiante que ainda não soltamos o freio de mão. Tiramos uns finos. Estacionamos meio longe da calçada. E retocamos o batom no espelhinho, sim”. Mas faz questão de esclarecer: “Só quando o sinal está fechado para nós”.

Agora, em marcha à ré, Martha admite que a única queixa que um homem pode ter contra uma mulher no trânsito é quando ela está no papel de co-pilota: “Aí, reconheço, somos um pé. Dobra aqui. Vai mais devagar. Tinha vaga bem ali na frente, você não viu? A gasolina está acabando. Dá para botar numa FM? Tirando isso, somos inatacáveis”.

Martha Medeiros provavelmente tem razão. Mas ela acha que nós, homens, vamos concordar? Aqui, ó! Desculpe, bela. Parafraseando Ruy Castro, no texto ontem reproduzido neste espaço: nós, homens, como boa parte dos brasileiros, não somos cordiais nem confiáveis. Pelo contrário, somos uns canalhas. E o mundo feminino deve se cuidar a nosso respeito.

Bii-bii! Sai da frente, barbeira! Tirou a carteira pelo telefone? Sinalizou que ia virar à esquerda e virou à direita!… Tinha que ser mulher. E nem era loira…

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