6:38E agora, capitão?

por Célio Heitor Guimarães

Nenhuma surpresa na prisão, ainda que temporária, de Carlos Alberto Richa, da sua mulher Fernanda, do mano Pepe e de boa parte da quadrilha que tomara conta do Paraná desde os tempos de Betinho na Prefeitura Municipal da Capital. Surpresa era que estivesse demorando tanto para ser decretada.

Fazia algum tempo que o pequeno Richa andava metido em malfeitos e não apenas como inocente útil como tentava fazer parecer. Era cúmplice, senão o líder da tropa de malfeitores.

No início de 2011, um texto por mim escrito interrompeu uma parceria de treze anos com o hoje extinto “O Estado do Paraná”. Até então, os meus escritos haviam sido aprovados sem nenhuma restrição. Naquele janeiro a direção do jornal consultava-me sobre a possibilidade de algumas mudanças no texto enviado. Claro que não concordei, pedi para que nada fosse publicado e tirei o time de campo, com uma saudade enorme de Mussa José Assis.

No comentário, eu apenas manifestava, metaforicamente, a minha apreensão com a condução da “nau Paraná”, entregue a Beto e sua turma. Achava que ele tomara o barco errado ou escolhera mal a tripulação e, de capitão, estava prestes a se tornar capelão. Tudo porque, ao cercar-se de figuras polêmicas, repletas de pecados, pregava ser preciso punir o pecado, não o pecador.

Esse tipo de teologia beteana conduziu a “nau Paraná” a águas revoltas, apinhada de tubarões. E passou a dar um trabalho danado ao Ministério Público, na expectativa de corrigir a carta de navegação. Entretanto, no caminho, novos pecadores foram embarcados, não para facilitar a rota, mas, ao que se sabe, para abrir novos furos no casco da embarcação. E aí, a Ezequias Moreira Rodrigues, Nelson Cordeiro Justus e Luiz Abi Antoun foram acrescentados Deonilson Roldo, Márcio de Albuquerque Lima, Paulo Roberto Midauar, Maurício Fanini, Eduardo Lopes de Souza, Edson Casagrande, Nelson Leal Júnior, Dirceu Puppo e os mercadores Eduardo Lopes de Souza, Celso Frare e – imaginem! – o multitalentoso e binacional Joel Malucelli. O co-piloto Pepe Richa e a primeira-dama Fernanda já estavam a bordo, abrigados na cabine de comando.

A marujada batia cabeça, expunha-se ao sol ardente e o naufrágio começou a se tornar inevitável. No percurso, havia icebergs à frente: Operação Voldemort, Operação Pelicano, Programa Patrulha do Campo, Operação Quadro Negro… Aparentemente, os obstáculos estavam sendo contornados, mas eis que, de repente, das águas emerge, a estibordo da embarcação, a patrulha do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – Gaeco, autorizada pelo magistrado Fernando Fischer, da 13ª Vara Criminal do Paraná, com fundamento em denúncias do MP estadual, desfraldando a bandeira da Operação Rádio Patrulha. A bombordo, conduzida pelo MP Federal e por ordem do vigilante juiz Sérgio Moro, pousou a Polícia Federal, no desempenho da Operação Piloto, a mais recente etapa da Operação Lava-Jato, assim denominada em homenagem ao codinome oferecido a Carlos Alberto na capitania da Odebrecht. Um ataque irresistível.

O outrora garboso comandante foi obrigado a atracar no primeiro porto. E, em meio à neblina, chamuscado pelas denúncias, foi recolhido aos costumes. Por enquanto, apenas para averiguações, mas como as acusações são fartas, as provas robustas e os delatores já começaram a soltar a língua (até o folclórico Tony Garcia ressurgiu das cinzas para oferecer a sua contribuição ao amigo e vizinho), o retiro poderá prolongar-se.

No céu, o saudoso José Richa, o pai, foi desagradavelmente surpreendido quando completava, naquela mesma terça-feira, o seu 86º aniversário. Entre os presentes ao festejo estava Tomás Edison de Andrade Vieira, ex-Bamerindus e pai de Fernanda, mulher de Betinho. Inconformado, garantia que havia deixado aqui embaixo capital suficiente para que a filha não precisasse meter-se em más companhias.

P.S. – Peço licença ao grande Dirceu Pio para reproduzir parte do texto por ele escrito e aqui publicado ontem:

“Deixei Curitiba para voltar a São Paulo em 1992 e fui apresentado ao filho [de José Richa] no segundo ano de seu primeiro mandato de governador (2012) . Foi grande a decepção!

“Beto Richa pareceu-me ser frio, insípido e inodoro. Estendeu-me a mão num gesto mecânico e não me olhou nos olhos, nem depois de eu lhe dizer:

“- Fui amigo de seu pai, um grande sujeito…Deu um sorrisinho rápido e me virou as costas…Saí do encontro com a certeza de que ele ainda iria produzir grande decepção a quem acreditou nele…”.

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5 ideias sobre “E agora, capitão?

  1. bs

    Excelente texto, resume muito bem a trajetória politica dese grupo que comandou o Parana.
    Esqueceu de comentar o tempo da prefeitura de Curitiba.

  2. Raul Urban

    Célio, após relativa ausência, um abraço e um parabéns pelo brilhante texto que retrata um trecho de uma História paranaense, digamos, pouco brilhante. Nós, jornalistas, aque já navegamos tantos mares revoltos, já não mais nos espantamos quando do decifrar momentos tormentosos como os presentes, em que as personagens revelam suas faces. A propósito, ao longo do texto, fica explícita uma antiga, mas sempre válida, máxima: “O avô é fundador; o pai, enquanto sucessor, é o empreendedor que luta, investe e faz crescer um empreendimento; e o neto destrói todo o legado em pouco tempo!” Lá do alto, José Richa e Edson Vieira haverão de confirmar e homologar a afirmativa.

  3. Bittencourt

    Ei, Zé: o texto cirúrgico do Célio, além de cortar nos músculos, ainda desossa o pedaço.Pombas, meu … Abraço aos dois.
    Bitte

  4. Zangado

    Ótimo texto, lúcida narrativa, retrato de um político lamentável cujo rastro de desolações começou com o caso da sogra fantasma, depois os contratos de transportecoletivo de Curitiba, a seguir, as diversas e seguidas maracutaias e desastres administrativos no governo do Estado. Quem tinha tudo para ser um novo lider tornou-se um mau exemplo histórico – o pior governador de todos os tempos no Paraná! Incompetente, arrogante, mentiroso e corrupto. Lastimável.

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