por Fernando Muniz
“Pelo que as imagens da tomografia mostram, esse corpo sólido no seu peito pode ser várias coisas. Lipoma, timoma ou, mesmo, linfoma”. O paciente se assusta com os termos. “Qual deles é melhor, doutor?”.
“Ah, não dá para saber sem biópsia. Existem vários tipos de linfoma, benignos e malignos e mesmo os timomas podem ser de um ou outro tipo”. Examina novamente o raio-x, as imagens da tomografia e pensa em voz alta: “Até se for um quadro de lipoma precisaremos investigar com cuidado, não sendo aconselhável descartar qualquer hipótese”.
O paciente se agita. “Pode falar sem rodeios, doutor. É câncer? Câncer é sempre maligno, certo doutor?”. O médico mira o paciente por sobre as lentes dos óculos: “Não necessariamente. Por sinal, essa palavra é muito polêmica”.
“Mas não é melhor tirar de uma vez esse troço? Não é mais rápido e mais seguro?”. O médico, que já esperava pela pergunta, afirma convicto: “A cirurgia pode não ser aconselhada no seu caso. Primeiro eu preciso de exames de sangue e um eletrocardiograma, para sabermos se você pode passar por um procedimento cirúrgico”. Apanha o bloco de requisições. “Qual é o seu plano de saúde?”.
“E se eu não puder?”.
“Como assim? O senhor precisa ver a cobertura do seu plano, urgente. Serão vários exames e alguns procedimentos”.
“Não, não, doutor. E se eu não puder fazer os procedimentos?”
O médico apanha outra resposta pronta: “Aí precisaremos de novos exames, para sabermos qual tratamento é o mais aconselhado diante do seu quadro clínico. E se poderemos, ou não, contar com a quimioterapia”.
Termina de preencher as requisições. “É bom o senhor se informar com o seu plano de saúde a respeito das coberturas. Faça isso logo. Poderemos ter um longo caminho a seguir”.
“Longo?!” Sua voz é resignada. Sente o dia cair por trás das costas, como se a vida estivesse de saída e, com ela, fossem junto o tempo e o espaço. Lê as requisições e começa a tremer, derrotado por aquelas palavras gregas e latinas que invadiram no seu destino a partir de um mal-estar banal. O médico se impacienta e faz sinal que a consulta terminou.
“O caminho é longo, mas estarei com você enquanto o seu problema se mantiver no tórax. E faço votos para não precisarmos de outros colegas”.
Oferece a mão, fria, com unhas bem cortadas, a revelar esmero. Protocolo social que, ao paciente, aparenta ser um até logo.
Ou adeus.
Ou pêsames.