7:34Diplomacia do porrete

Por Ivan Schmidt 

O presidente Donald Trump foi à China para tentar convencer o presidente Xi Jinping a aumentar o volume de importação de produtos norte-americanos e, em consequência, diminuir o superávit comercial de 27 bilhões de dólares daquele país em relação aos Estados Unidos no mês de outubro.

Num gesto de boa vontade, Xi anunciou na chegada de Trump o fechamento de uma batelada de acordos comerciais estimados em nove bilhões de dólares, especialmente nos setores de energia (petróleo e gás) e produtos agrícolas.

No entanto, medidas que facilitem o ingresso de capitais norte-americanos no mercado chinês de serviços, que o ocidente considera o verdadeiro filé, dependem de negociações mais profundas e minuciosas entre ambos os governos, especialmente em termos da participação controladora de joint ventures.

A dúvida está diretamente amarrada ao fato do baixo retorno chinês (2% em média) para as empresas de capital aberto em 2016.

As relações comerciais e diplomáticas entre Estados Unidos e China são bastante antigas, tendo sofrido sérias conturbações durante a Guerra Fria, período recente da história mundial, em que a assimetria ideológica levou os altos dirigentes das principais potências (EUA, URSS e China), a desentendimentos desnecessários e até mesmo infantis.

Foi exatamente nesse período que mentores intelectuais de governos norte-americanos identificaram a URSS e a China como o Império do Mal, uma espécie de usina produtora das inúmeras mazelas que tornaram mais difícil a vida no ocidente.

Winston Churchill gostava de dizer que “os Estados Unidos sempre farão a coisa certa, mas apenas depois de esgotar todas as outras opções”, segundo informam Thomas Friedman e Michael Mandelbaum, no livro Éramos nós – a crise americana e como resolvê-la (Companhia das Letras, SP, 2010), cuja (re)leitura poucos anos depois de publicado no país de origem dos autores, ajuda o observador a melhor compreender a forma com que a geopolítica praticada pelas economias desenvolvidas e seus teleguiados, acabou ditando as regras do comportamento internacional.

Thomas é colunista do The New York Times, ganhador de três prêmios Pulitzer e Mandelbaum, professor de relações internacionais na prestigiada Universidade John Hopkins, amigos de longa data e profissionais com interesses intelectuais comuns que alimentaram conversas frequentes sobre o universo de informações sobre como a Inglaterra dominou o século 19, os Estados Unidos o século 20, “e que a China vai inevitavelmente reinar no século 21”, embora no livro escrito em conjunto procurem demonstrar a falácia dessa ideia.

Dizem os autores que a sensação de urgência que os levou a empreender a tarefa de alinhar as ideias derivou do fato de que o sistema político “não está enquadrando adequadamente, e menos ainda atacando nossos maiores desafios”, deixando claro que “o objetivo não deveria ser apenas resolver os problemas da dívida e do déficit. Isso é tacanho demais”.

O destino manifesto dos Estados Unidos é permanecer um grande país, e esse objetivo segundo Friedman e Mandelbaum significa que na medida em que os déficits são reduzidos, é necessário também investir em “educação, infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, bem como abrir mais sua sociedade para imigrantes talentosos e corrigir os regulamentos que governam sua economia”.

“Imigração, educação e regulação sensata são ingredientes tradicionais da fórmula americana de grandeza. São mais vitais que nunca se quisermos realizar o pleno potencial do povo norte-americano nas próximas décadas, gerar os recursos para sustentar nossa prosperidade e permanecer o líder global que temos sido e que o mundo precisa que sejamos”, escreveram.

Uma conclusão acertada dos autores – experientes analistas das relações internacionais – pondera que a opção correta para a preservação da grandeza americana não é tornar o país mais parecido com a China: “Certamente a China deu passos extraordinários para tirar dezenas de milhões de seus habitantes da pobreza e modernizar sua infraestrutura – de centros de convenções a rodovias, aeroportos e moradias. O foco incessante da China no desenvolvimento econômico e sua disposição em procurar as melhores práticas do mundo, experimentá-las e depois aumentar a escala daquelas que funcionam são realmente impressionantes”.

Os autores, porém, não se eximem de apontar problemas conjunturais no cenário chinês, coisas como falta de liberdade, corrupção generalizada, grande poluição e um sistema educacional que historicamente tem sufocado a criatividade, além de assegurar que “a China não possui um sistema político ou econômico melhor do que o dos Estados Unidos”, mesmo admitindo um repto extremamente realista: “Sabemos que toda semana um político norte-americano aceita uma propina; alguém é condenado por um crime que não cometeu; dinheiro público é desperdiçado em vez de ser aproveitado para uma ponte ou uma escola nova, ou uma pesquisa de ponta; muitos jovens abandonam a escola; mulheres jovens engravidam sem um pai que assuma o filho; e pessoas perdem injustamente o emprego ou a casa”.

Nesse tom, os autores concluem que o problema dos Estados Unidos “não é a China”, mas seus próprios cidadãos e aquilo que fazem ou deixam de fazer, o funcionamento ou não do sistema político, ou ainda, os valores que norteiam a vida das pessoas. E estabelecem um parti pris: “E a solução está em nós – o povo, a sociedade e o governo que costumávamos ser, e podemos voltar a ser”.

O fim da Guerra Fria trouxe quatro grandes desafios aos Estados Unidos: como se adaptar à globalização, como se ajustar à revolução da tecnologia da informação, como enfrentar os grandes e crescentes déficits orçamentários resultantes das demandas sempre maiores do governo em todos os níveis, e como lidar com um mundo onde crescem o consumo de energia e as ameaças ambientais.

A essência da globalização, atestam, é o livre movimento de pessoas, bens, serviços e capital através das fronteiras, tendo em vista que a globalização “se expandiu graças ao notável sucesso econômico das economias de livre mercado dos Estados ocidentais que comercializavam e investiam fortemente entre eles. Outros países, observando esse sucesso, decidiram seguir o padrão ocidental. A China, países do Leste e do Sudeste asiático, a Índia, a América Latina e a antiga Europa comunista ingressaram na economia globalizada”.

Na tarefa de proteger e salvaguardar os interesses do chamado “mundo livre” (hoje uma expressão em desuso), os Estados Unidos “agiram como artífices, policiais e banqueiros das instituições e práticas internacionais que criaram depois da Segunda Guerra Mundial e das quais o mundo inteiro agora participa”. Tio Sam ainda mantém a principal moeda do mundo, protege as rotas marítimas ao longo das quais passa a maior parte do comércio mundial, e sua presença militar na Europa e no Leste asiático garante a segurança nessas regiões.

Mais do que dizer que o mundo atual “é um mundo que nós, americanos, inventamos”, Thomas Friedman e Michael Mandelbaum afirmam com todas as letras, que “infelizmente nenhum país está preparado para substituir os Estados Unidos como governo mundial, assim como substituímos da Grã Bretanha quando ela entrou em declínio. Tampouco nossos aliados, sob pressões econômicas, na Europa e na Ásia arcarão com os custos desses serviços globais. Portanto, o enfraquecimento dos Estados Unidos tornaria o mundo um lugar pior, mais pobre e mais perigoso”.

O presidente Donald Trump e o dirigente máximo da China foram à Ópera de Pequim, numa demonstração de elegância e fino trato. Contudo, o bilionário norte-americano não perdeu a oportunidade ameaçar o ditador norte-coreano de varrer seu país do mapa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Uma ideia sobre “Diplomacia do porrete

  1. Sergio Silvestre

    Tendo o Moro,Waack ,Temer etc como agentes da cia,a importância dos EUA e China seria até de ter uma aula especifica para esses assuntos tão bucólicos e alvissareiros.Imagino que 200 milhões de um povo tocado por sinueiros vão se acotovelar para escutar os mestres explicando o fim do Brasil e que seus novos boiadeiros são os americanos e os chineses.
    Ai bolivianos,Venezuelanos etc vão dar risadas na nossa cara,até por que ficaram uns tempos sem limpar o rabo ,mas conseguiram vencer os imperialistas hahahahahahaha

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