6:07“Deve-se arrancar a árvore da corrupção, sob risco de termos um Brasil mais corrupto”

Mensagem enviada pelo procurador Deltan Dallagnol* à coluna Painel, da Folha de São Paulo

A Lava Jato chega aos três anos no auge – até agora, pelo menos – de sua história. A investigação foi consistente e englobou 746 buscas e apreensões, 183 pedidos de cooperação internacional, 155 acordos de colaboração com investigados e 10 acordos com empresas.

As provas coletadas conduziram a 56 acusações criminais em primeira instância, contra 260 pessoas. Já há 26 sentenças condenando 130 pessoas a penas que, somadas, ultrapassam 1,3 mil anos.

Não é só a quantidade, mas o poder dos acusados levados a julgamento que impressiona. O valor que os réus já se comprometeram a devolver soma mais de 10 bilhões de reais, quando a regra na justiça penal brasileira é não recuperar nenhum real. E há muito mais por vir.

Os resultados que a sociedade mais espera ainda virão a partir do trabalho do Supremo Tribunal Federal, em relação a pessoas que têm foro privilegiado. A colaboração da Odebrecht lançará uma série de sementes de investigações, em muitos lugares do Brasil e do exterior, que poderão germinar e se tornar grandes operações.

Não sabemos ainda se a Lava Jato e todos os seus resultados inéditos, olhados do futuro, em perspectiva, serão um pequeno desvio no caminho do país, e ele retornará à estrada original, ou se ela nos colocará sobre novos trilhos, rumo a um país menos corrupto. Isso porque ela faz diagnóstico, e não tratamento.

Seu maior mérito talvez seja ter feito um retrato de uma corrupção que tem raízes profundas em nossa história e tentáculos que abraçam uma multidão de órgãos públicos. A investigação só logrou expor as vísceras do ambiente político-econômico, mas também romper episodicamente a impunidade dos círculos do poder. A gravidade da doença nos faz desejar ardentemente o tratamento.

Não queremos que a justiça seja igual para todos, incluindo poderosos, apenas na Lava Jato. Não basta colocar na cadeia os corruptos da Lava Jato, mas também os outros 97% daqueles desviam dinheiro público e saem impunes.

As prisões são importantes para paralisar os crimes, mas elas não diminuem os estímulos à corrupção que existem no sistema político. Se não alterarmos os sistemas da Justiça e o político, a Lava Jato será, no futuro, uma feliz memória de um tempo de esperança, em que acreditávamos que tudo poderia ser diferente.

Isso traz à tona o papel essencial da sociedade. O maior erro da Itália, acredito, tenha sido depositar excessivamente a expectativa de uma solução nos ombros do Judiciário, quando apenas reformas mais profundas poderão nos trazer um país mais limpo.

A Lava Jato mantém aberta uma espécie de portal de reformas, mas cabe à sociedade atravessar. Vivíamos no círculo vicioso em que mudanças jamais aconteceriam. Há um momento de ruptura, hoje, visível em três aspectos. O diagnóstico conscientizou as pessoas do mal que a corrupção causa e trouxe o tema para a mesa de debates na sociedade e no parlamento.

A Lava Jato nos dá o gostinho do país que podemos ter, onde impera a lei para além do reino do papel. A população ganhou músculos ao ir para a rua várias vezes, buscando o fim da corrupção. Assim, a consciência do problema se somou ao sonho de reformas e à força da sociedade. É uma combinação poderosa.

Se as pessoas não se insensibilizarem, se não desistirem, chegaremos lá. E isso é vital. Desbastar galhos de uma árvore pode fazer com que brotem em maior quantidade e com renovado vigor. Precisamos arrancar essa árvore da corrupção, sob risco de termos um Brasil mais corrupto após a Lava Jato.

*Deltan Dallagnol, procurador da República e coordenador da força-tarefa Lava Jato na Procuradoria da República no Paraná

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6 ideias sobre ““Deve-se arrancar a árvore da corrupção, sob risco de termos um Brasil mais corrupto”

  1. Sergio Silvestre

    Eu até acreditaria no Mauricinho do Bacacheri se ele não fosse tão chegado numa camera de tv ou em alguma pirotecnia e mostrado ter um lado como tapa de burro que só enxerga os petistas na sua frente.
    E está provado ai na lista que os petistas são poucos e os que estão indiciados foi por uma suposta obstrução de justiça inventada para encher linguiça,até por que se não tem nada alem disso que os desabone,não tem por que obstruir nada.
    Acho que é delação demais para os gostos mais apimentados,assim todos serão soltos e os famosos milênios de pena serão reduzidos a uns poucos meses de cada um para eles depois gozar do produto do furto que ninguem é de ferro aqui no Brasil ainda mais que são de uma elite branca de olhos claros e bilau pequeno.

  2. jose

    Tem razão silvestre, tem poucos petistas na lista: Amigo, Italiano, Pós-Itália, Feira, Vaca, Polo, Coxa…
    E se tem tão poucos petistas, porquê o desespero do chefe, que nem quanto ganha sabe dizer? Muito menos de onde vem o dinheiro?
    Aliás silvestre não é a lava jato o maior problema do chefe, é o conjunto da obra…só você não acredita…ainda…

  3. Jorge Armado

    É verdade José. O que nos consola é saber que ainda existem políticos honestos. O psdb é a reserva moral do país. A única legenda capaz de nos salvar do caos total. Homens como Aécio, Serra, Aloísio Nunes, FHC estão acima de qualquer suspeita. E é claro, a grande estrela entre os tucanos, o nosso governador e seu time de notáveis: Rossoni, Traiano, Romanelli ( que não é tucano mas é sensacional).Não percamos a esperança. Em 2018 a honestidade vai vencer o mal comuno petista.

  4. jose

    Jorge, fica com eles pra você!
    Por mim, podem ir para a PCE também é levar junto a família requião e todo o pmdb velho de guerra também, além do pdt e todas as demais siglas que fazem parte da quadrilha.

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