19:10Derrota duríssima lança Lula e acelera plano B ao mesmo tempo

por Igor Gielow

Não poderia ser pior para Luiz Inácio Lula da Silva a derrota sofrida no TRF-4 quarta-feira (24). A dureza dos votos e a unanimidade inesperada alcançada pelos desembargadores vai levar a dois movimentos: o lançamento da candidatura do petista à Presidência e a aceleração da articulação do plano B para sua eventual, para não dizer provável, inabilitação mais à frente.

O paradoxo é apenas aparente, e reflete aquilo que continuamente se ouviu entre petistas graúdos nos últimos meses. O discurso público foi e será o de levar a candidatura Lula às últimas consequências, até porque não há alternativa hoje ao PT.

Reservadamente, contudo, a inabilitação sempre foi vista como uma certeza. O que impressionou os petistas foi o rigor e a uniformidade da decisão, que esterilizou a margem de manobra de recursos e aumentou significativamente a pena imposta a Lula. E ainda nem se fala aqui da hipótese de uma prisão.

Não é casual que figuras como o “estepe” Jaques Wagner já comecem a fazer discursos mais comedidos sobre o cenário político, admitindo ao fim de uma longa sentença negando o plano B que o partido talvez tenha de lançar um outro candidato. É previsível que a intensidade desses “sincericídios” aumente.

É algo lógico. Hoje o PT tem a segunda maior bancada na Câmara, com 57 deputados federais, e precisa de um carro-chefe para ajudar a não deixar esse nível cair para menos de 40 nomes —perda de vitalidade não só para discussões programáticas, mas também para abocanhar recursos públicos para fins partidários proporcionais ao seu tamanho. Assim, precisam de Lula vivo politicamente o máximo de tempo possível, e seu preposto pronto para carregar o estandarte até o fim.

Esse cenário provável forçará um contorcionismo retórico significativo. O partido terá de construir um discurso para justificar sua participação naquilo que grita aos quatro ventos ser uma “fraude”, o pleito sem a presença de Lula que se insinua.

Não que tal malabarismo já não tenha ocorrido, quando por exemplo o ex-presidente “perdoou os golpistas” buscando viabilizar alianças estaduais com partidos como o MDB. Se o eleitor vai engolir uma versão revista e ampliada disso, é algo a ver.

Para os adversários do PT, que majoritariamente preferem Lula fora da urna eletrônica apesar de terem dito o contrário nos últimos tempos, a situação continua nebulosa até a definição da questão da elegibilidade do ex-presidente.

Geraldo Alckmin (PSDB) continuará confiando na força gravitacional de uma estrutura nacional mais bem montada e torcendo para subir uns pontos nas pesquisas. Os centristas especulativos (Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e quem mais vier) seguirão apostando nas dificuldades do tucano, ainda que hoje isso só lhes sirva para vitaminar o cacife.

Pior é a situação de Ciro Gomes (PDT), que sonha em herdar votos lulistas, mas que para isso precisa de um apoio desde a largada da campanha, e de Marina Silva (Rede), que não sabe se busca esse eleitorado ou aquele ao qual associou-se em 2014 ao apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno.

Para Jair Bolsonaro (rumo ao PSL), a manutenção de Lula o máximo possível como uma possibilidade lhe garante a fidelização da franja mais extrema do voto antipetista. Seu desafio maior é ampliar a inserção no eleitorado “antiestablishment”, que segundo analistas ainda pode ser encantado por um lançamento de corpo exógeno como o apresentador Luciano Huck.

*Publicado na Folha de S.Paulo

 

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