18:07Delator foi à casa de Richa dias antes de ser preso, diz ex-primeira-dama

Do site da revista Veja, em reportagem de Guilherme Voicht

Em depoimento, Fernanda Richa afirma que ex-diretor da Secretaria de Educação queria ‘se desculpar’ com o governador

A mulher do ex-governador Beto Richa (PSDB) e secretária da Família e Desenvolvimento Social, Fernanda Richa, declarou em depoimento prestado aos promotores da Operação Quadro Negro que o engenheiro Maurício Fanini, ex-diretor da Secretaria de Educação, esteve no apartamento do casal em 14 de julho de 2015, uma semana antes de ser preso pela primeira vez.

“Ele insistiu muito e foi lá em casa nos visitar. Só estava eu em casa com meu filho menor, André Rodrigo, e ele ficou ‘preciso conversar com o Beto, preciso falar com ele, eu tenho que colocar para ele o que está acontecendo… Eu preciso me explicar, preciso me desculpar com o Beto’”, afirmou Fernanda em depoimento prestado em abril e obtido por VEJA. A ex-primeira dama afirma que não presenciou a conversa entre o governador e o delator, mas atesta que, assim que chegou em casa, Beto recebeu Fanini e conversou reservadamente com ele.

A operação investiga fraudes em licitações da Secretaria de Educação (SEED) para a construção de escolas. Em sua proposta de delação obtida por VEJA, Fanini, amigo de Richa desde a faculdade e apontado pela investigação como responsável por intermediar o acerto entre empreiteiras, agentes públicos e políticos, afirma que procurou o governador na ocasião para relatar as dificuldades “profissionais, emocionais e familiares” que estava vivendo desde sua exoneração na SEED. Na época do encontro, a participação de Fanini na Quadro Negro já era amplamente divulgada na imprensa.

Segundo Fanini, no encontro, Beto teria pedido “paciência” e afirmado que as “coisas iriam se resolver”. Naquela altura, Fanini diz que recebia uma espécie de mesada de empresários a mando do governador. Richa nega.

Em seu depoimento, Fernanda também confirma que ela e o tucano estiveram com Fanini e a esposa em São Paulo, quando da gravação do programa Roda Viva na capital paulista. Na oportunidade, segundo conta Fanini em sua delação, Luiz Abi Antoun, primo do governador, teria pedido dinheiro ao então diretor da Secretaria. Segundo ele, “Fernanda Richa escutou a conversa mas não participou da mesma”. No depoimento, a secretária da Família também confirma que Abi estava em São Paulo na oportunidade, mas nega ter participado de qualquer tratativa sobre dinheiro. Fernanda também diz serem mentiras as afirmações de Fanini de que ela teria pedido mil dólares para bancar uma viagem do filho. A ex-primeira dama confirma, porém, que ela e Beto eram próximos do casal Maurício Fanini e Betina; que ambos viajaram juntos e que ela e Betina trocaram mensagens de WhatsApp no dia da prisão do engenheiro.

Fernanda, Beto e Abi

A defesa de Fernanda afirma que a ex-primeira-dama “colaborou plenamente com as investigações”. “Em um primeiro momento, compareceu à sede do Ministério Público do Estado do Paraná e esclareceu todos os questionamentos elaborados pelos promotores de justiça. Em um segundo momento, disponibilizou o seu sigilo fiscal e apresentou ao MPPR extratos bancários da conta de uma de suas empresas, esclarecendo, minuciosamente, cada uma das operações financeiras contidas nos documentos. Em um terceiro momento, ela apresentou ao MPPR o registro, a matrícula, a escritura de compra e venda e o contrato particular de compra e venda do imóvel dado como presente de casamento a um de seus filhos”, diz a nota enviada pelo advogado da ex-primeira-dama. Ainda no texto, a defesa afirma que “o ingresso de dinheiro na conta corrente de sua empresa provêm exclusivamente de origem lícita e de herança familiar, não mantendo nenhum vínculo com qualquer outro recurso, muito menos com proveitos de atos de corrupção, ao contrário do que fazem crer as delações caluniosas contra a pessoa dela”.

O ex-governador Beto Richa declarou, por meio de nota, que Fanini “tenta delatar tudo e todos, sem, no entanto, apresentar quaisquer indícios de provas”. “São acusações criminosas, com o objetivo de envolver terceiros, retirando o foco das fraudes por ele cometidas”, diz o tucano.

A defesa de Luiz Abi já afirmou que todas as menções ao seu cliente são mentirosas e que o único objetivo de Maurício Fanini é firmar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, envolvendo o máximo de pessoas próximas ao ex-governador Beto Richa.

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