Desde menino, filho de amor ausente
Quando homem, feito um caeté descrente
Não ergueu nenhum castelo de areia
Deparou-se com a chave da cadeia
Fez das letras trincheira de resistência
Cultivando a virtude da decência
Na esperteza tão humana de Baleia
Sai do âmago da terra essa agonia
Esse limite que encarcera o ser humano
É o silêncio de um pobre Fabiano
Que na cidade grande se angustia
Carne que em mil pedaços se fatia
E respinga neste chão no qual pisamos
E as dores que, no peito, carregamos
Em sua arte ganham nova dimensão
Esta imagem de homem rijo do sertão
É a face de Graciliano Ramos
Da coisa pública, a zelar com retidão
Tal testemunho o relatório eterniza
E nas cartas de amor a Heloísa
Devotamente abriu todo o coração
Das memórias nordestinas, guardião
Aos esquecidos da história, se irmana
A liberdade, defende e não se engana
Por tantos feitos, canto hoje a figura
Desse grande mestre da literatura
Esta joia da cultura alagoana
*Poema feito para a Jornada Cultural de Palmeira dos Índios (Al) em homenagem aos 120 anos do nascimento do escritor Graciliano Ramos. Foi remiado pela Academia Palmeirense de Letras em 9/11/2012. Publicado no “Rico Rocking Blogspot”, de Ricardo Silva