por Fernando Muniz
Cruza a porta do banco naquele final de tarde sem fazer o alarme soar; bom sinal por um lado, pois não precisará explicar a prótese de fêmur; mau sinal por outro, porque o alarme nem deve estar ligado.
Caminha pela via rápida rumo ao ponto de ônibus absorvido por essas possibilidades e não percebe um rapaz magro, de japona apesar do calor, aproximar-se pela esquerda.
“Passa a grana, vovô!”
Leva um susto com a voz de assalto; o rapaz põe a mão no bolso e puxa um revólver. Em plena luz do dia, ou seja, não tem nada a perder. E tão novo, poderia até ser um neto seu. Os carros seguem a toda velocidade pela via rápida, alheios aos dois. Como se não passasse nenhum.
“Veja só, guarde isso. Não há necessidade. Pode levar o que quiser”.
“Me dá logo a carteira, porra!”
O velho põe a mão no bolso interno do paletó, bem devagar, como seus filhos lhe ensinaram. Não reagir, não entrar em pânico, não fazer gestos bruscos.
Pega a carteira e a entrega ao rapaz, que, inexperiente, começa a investigar o conteúdo ali mesmo.
“Veja só, se você não quiser os meus documentos, posso ficar com eles?”. O rapaz não responde, mas joga a carteira na calçada.
O velho, assim que apanha a carteira, grita ao rapaz, a essa altura do outro lado da avenida: “Ei! Você!”.
Ele segura a marcha e se vira para onde veio o grito, pondo a mão no bolso, à procura do revólver.
“Quanto que eu te dei?”.
“Quase cem”.
“Não vá gastar com besteira por aí!”.