7:12Balança mas não cai

“O fim do mundo já não nos preocupa tanto quanto o fim do mês”. A frase ilumina um pouco para que está cada vez mais recolhido no fundo das cavernas, como um dinossauro de olhos vidrados e boca aberta com a velocidade do furacão do que chamam tempos modernos. É de um desses esquecidos rapidamente – e há muito tempo, porque assim é que se fica inserido no contexto. Ih! mais uma coisa do tempo pós Amigo da Onça, essa do Pasquim, que muitos nunca ouviram falar. Max Nunes era tão gênio que cunhou a constatação em meados do século passado no Bananão (saudades do Ivan Lessa) e, na sua usina criativa, que catapultou o talento humorístico de Jô Soares, também deixou outro recado, a imortal criação do Primo Pobre e o Primo no programa que saiu da sua cachola, O Balança mas não Cai. Saudade não tem idade e isso é coisa de velho, podem pensar. É, porque o melhor das recordações que marcaram é que podemos editá-las, segundo outro bamba que também já se foi – mestre Armando Nogueira. Uma Pulga na Camisola é um livro que pode ser encontrado nos sebos da vida (se alguém se interessar e utilizar a parte boa da tal rede, o site do Estante Virtual é uma mão na roda). É do autor da frase que abre este vale de lágrimas escritas. E se o interessado quiser, pode fazer uma dupla como “Flor de Obsessão – As mil melhores frases de Nelson Rodrigues”, ambos trabalho de garimpo de um dos últimos moicanos a emprestar com talento e inteligência uma reverência à memória que interessa, o jornalista e escritor Ruy Castro (outro que faz parte do time do “só por hoje” e está conseguindo controlar o alcoolismo há quase trinta anos, período onde seu talento decolou em forma de quase três dezenas de livros). Temer Trump? Os malucos de hoje que estão no poder, lá e aqui, não são líderes e não têm a mínima graça. Sim, no passado genocidas entraram para a história, mas porque cometeram assassinatos em massa em nome de uma “ideologia”, e até deixaram o tal legado “da causa” para gerações de imbecilóides. E agora, nos tempos modernos, quantos morreram e morrem como moscas enquanto se discute política e mercado? Fiquemos no Bananão. Os assassinatos no Brasil superam em número o das guerras que estão por aí no mundo por motivos de geopolítica econômica. Quem vê na tv cenas de bombas caindo na cabeça dos sírios, e refugiados se afogando tentando fugir do inferno, se for mais ou menos humano sente dor na alma, certo? Certo, mas ali na esquina uma bomba de nêutron caiu na vida de alguém que se vê sem saída enquanto no bloco seguinte do telejornal os responsáveis pelas políticas públicas discutem quem vai comandar a Câmara dos Deputados – a dúvida é que caminho tomar para se fazer o jogo onde fica mais fácil se manter por cima da carne fresca nas respectivas províncias, com a vantagem de deixar o bolso alegre enquanto se treina discursos para o ato de distribuição de recursos para Educação e Saúde. O que? Está tudo podre? Somos uma nação cada vez mais burra, infestada de epidemias e com gente morrendo na porta e nos corredores dos hospitais públicos. Ah, mas passamos por uma crise cujos responsáveis de todos os lados se acusam com a cara de pau dos sacripantas. Mas crise de caráter é a doença que habita o andar de cima desde o tempo das capitanias hereditárias. Lava Jato? Um marco histórico em 517 anos de história, porque cutucou o cancro e escrachou um tico do podre, apesar de só centrar o fogo no lado esquerdo do corpo enfermo. Mas, pergunta-se: onde estará daqui a 10 anos? Dinossauros são pessimistas, mas balançam e não caem. Se não houver um mínimo de esperança, a angústia destrói tudo. Apesar do circo de horrores, não se pode temer e o antídoto é sempre praticar o bom combate, que é o que se deveria fazer com a própria consciência. Um trampa assumiu lá? Hummmmm. Aqui, eles eles pululum feito urubus na carniça. A diferença é que não limpam a sujeira, como as aves nobres de rapina, mas sujam mais. Como não temos povo, mas sim espectadores, praticar o bom combate, que é aquele com a própria consciência, tentando evitar ser arrastado pelo que há de anestesiante nas doses cavalares de idiotização atochadas de todos os lados, já é bastante coisa, afinal, precisamos chegar salvos ao fim do mês.

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