13:54Alô! Alô! Responde!

por Sergio Brandão

A tecnologia me encanta. Tive um celular que durou quase 5 anos. Levei quase dois para me acostumar com ele. Agora que estávamos nos entendendo bem, ele sucumbiu. Como um passarinho foi sumindo, sumindo e desapareceu completamente. O técnico da UTI por onde passou há um ano, me disse que não resistiria.

Me deram outro, mais moderno, mais eficiente, última geração da Motorola etc e tal. Tem internet  mais rápida, milhões de aplicativos… uma loucura de outro mundo… mas não fala. Quer dizer, chama, mas não parla. Se chama mas não fala, imagino que algo deve estar errado. Comigo ou com ele.

No começo achei que era assim mesmo. Cheguei a levar em conta que podia ser uma geração mais atual dos tablets. Menor, parecido com um celular, mas de uso apenas para Internet com fotografia, filmes e seus aplicativos diversos . Pra que telefone, não é? Coisa de gente antiga, que ainda insiste nestas coisas. Mas algo me dizia que aquilo ainda podia ser um telefone.

Hoje achei que ele estava tocando. Vibrou como um celular, e com um som estranho parecia mesmo me chamar… parecia tentar me dizer algo, mas eu não conseguia entender aqueles sinais . Além de vibrar e da musiquinha bem baixa, ainda tinha uma mensagem piscando: “CHAMANDO”. No canto superior esquerdo apareceu um número de telefone. Enfim, nascia um celular. Pensei – bom, é um telefone ( também), mas como atender? Não havia nenhuma indicação, nenhuma tecla para apertar. Apenas tocava , vibrava e dizia : “CHAMANDO”.

Quem queria falar comigo ainda tentou uma segunda vez. Claro que não conseguiu. Liguei para o número na tela e me devolveram com a mesma moeda. Ninguém atendeu. Acho que nem consegui completar a ligação.

Em casa, minha filha mais velha, com seu dedinho rápido e me olhando com seu olho grande fez cara de quem não tolera mais esta pouca familiaridade da terceira idade com a estes equipamentos que nasceram com a geração dela.

No primeiro dia com o telefone na mão, sem saber direito o que e onde estava apertando, fui dizendo sim a quase tudo. Acabei  adicionando na minha conta do Facebook um monte de amigos da minha filha. É que o aparelho era dela, antes de se tornar um estranho, quase uma arma em minhas mãos.

Aos poucos vamos sendo apresentados. Imagino que com algum tempo e estaremos conversando e trocando umas ideias. Com o anterior- bem mais fácil como disse – levei quase dois anos para entender seu temperamento.

Se precisar falar comigo, me liga no fixo mesmo. Estou quase sempre em casa.

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2 ideias sobre “Alô! Alô! Responde!

  1. Célio Heitor Guimarães

    Tá vendo, Sérgio, por que eu não tenho e enquanto vivo for não terei essa maquininha do demônio?

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