6:57A vaidade que corrói

por Célio Heitor Guimarães

Permitam-me pinçar uma frase do jornalista Elio Gaspari nos jornais de ontem: “A operação tabajara de áudio de Batista poderá derrubar Temer, mas terá ferido a Procuradoria-Geral”. E não só a Procuradoria-Geral – acrescento eu –, mas também a Polícia Federal e até o excelso Supremo Tribunal Federal.

A astuta delação dos malfeitores Batista aos procuradores ocasionou o desencadeamento de uma chamada “operação controlada”, na qual os bandidos são utilizados para desmascarar os seus cúmplices. A eles a Polícia Federal ofereceu gravadores, malas chipadas e toda a orientação logística necessária para a operação. Fez mais: anotou os números de série das notas do dinheiro da propina e cuidou do registro através de filmagens.

A conversa de Joesley Batista com o presidente da República resultou de gravação de baixíssima qualidade, inconclusiva, entrecortada, sem coerência, como – já disse alguém – se os dialogantes estivessem “chapados”. Ouviu-se mais murmúrio do que conversa. Não obstante, a Procuradoria da República acolheu-a como prova, ela serviu de base para a denúncia do procurador Janot e foi admitida pelo ministro Fachin, do STF. Como também registrou Gaspari, houve “voluntarismo da Procuradoria-Geral da República, inebriada pela espetacularização de suas iniciativas. A pressa para divulgar o teor das colaborações da Odebrecht fez com que os vídeos oficiais fossem liberados antes das transcrições. Com o grampo de Batista, foi-se além. Aceleram-se as negociações, adocicou-se o acordo, apressou-se a homologação e divulgou-se a transcrição de um áudio sem que houvesse a competente perícia”.

Resultado: cobriram-se de dúvida a autenticidade e a validade do grampo, constatou-se que o gravador utilizado era uma merreca de R$ 26,00 revelou-se a inexistência de chip na maleta que conduziu o dinheiro e deste desapareceram R$ 35 mil, sem que ninguém saiba dizer aonde foram parar.

Além do que, ao liberar a divulgação das gravações feitas pelos federais e entregues ao STF pela Procuradoria da República, a Suprema Corte incluiu uma conversa do jornalista Reinaldo Azevedo com a irmã do senador Aécio Neves que nada tinha a ver com a investigação, ferindo o art. 5º da Constituição Federal.

Quer dizer: está todo mundo batendo cabeça e nadando na maionese, encantado com a exposição na mídia e a atenção popular, enquanto o Brasil derrete interna e externamente. A vaidade, como dizia Chateaubriand – que não era o velho Assis, dos Diários e Emissoras Associados brasileiros –, “é o calcanhar de Aquiles do gênero humano”. Outro pensador, chamado Rousseau, garantia que “se existe alguém que a vaidade tenha tornado feliz, com certeza esse alguém é um tolo”. O nosso Machado de Assis ia além e achava, com a precisão de sempre, que “a vaidade é um princípio de corrupção”.

Esse desespero, essa ufania e esse pedantismo todo em busca dos holofotes ainda vai comprometer a Operação Lava-Jato, que continua sendo a melhor coisa já acontecida no Brasil, desde que Cabral pôs os pés nesta terra. Aquilo que os bandidos tentam obstinadamente sem resultado, vai acabar sendo oferecido graciosamente pelos mocinhos…

Outra coisa: alguém precisa dizer ao nosso cultuado Sérgio Moro que a posição que ele ocupa no momento e a importância que tem para o Brasil e para os brasileiros não lhe permitem ficar se exibindo por aí e ditando cátedra mundo afora. Se deseja (e merece) um lugar na História, deve manter os olhos, a atenção e a competência exclusivamente nos autos.

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