15:07A juventude bolsonárica

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário (http://www.oinsultodiario.com/ )

O projeto da escola sem partido é inovador e revolucionário. Inovador quando abre aos alunos do ensino fundamental a prática do patrulhamento e da delação: poderão fiscalizar os professores e delatá-los aos pais, à administração escolar e – por que não? – ao líder político ou ao pastor de sua crença. A inovação consiste em instituir as duas práticas ao ensino fundamental, porque elas existem desde sempre no ensino superior, aqui circunscritas às relações internas discente-docente, sem vazamentos exteriores.

Algumas diferenças: agora serão os alunos da dita direita patrulhando os professores da dita esquerda. No ensino superior é o contrário, alunos da dita esquerda versus professores da dita direita – a ‘dita’ aqui é fundamental, para desvendar a fragilidade dos rótulos, e antecipar as sílabas da palavra representada pela atitude. A escola sem partido não vai se ocupar do patrulhamento e da delação no ensino superior. Aqui continua igual, ou seja, duas realidades distintas no ensino fundamental e no superior, a direita de baixo contra a esquerda de cima.

Como resolver a contradição? À brasileira, importando modas que caducaram no Primeiro Mundos: o sistema de cotas de estudantes de direita no ensino superior. A escola sem partido será uma revolução atrasada algumas décadas: o sistema de patrulhamento e delação existiu na Rússia Soviética, na Alemanha estalinista, nos Estados Unidos macartista e subsiste na Cuba castrista. Digamos, então, que na escola sem partido a ideologia cede ao policialismo de bermudões, skates, fones de ouvido e Instagram.

Da escola sem partido poderão derivar as milícias infanto-juvenis, adaptáveis e adaptadas a qualquer regime, mesmo a um futuro regime de esquerda (que poderá ser a resposta dialética à era Bolsonaro, como esta foi a resposta dialética à era Lula). Finalmente, não será surpresa se os deputados da base aliada incluírem na lei da escola sem partido a obrigatoriedade do uso de camisas pretas, pardas ou beiges pelos alunos do ensino fundamental. Assim foi na Alemanha e na Itália. E no Brasil integralista de Getúlio Vargas.

Pensamento luso, brasileiro

O futuro ministro da Educação é mestre em pensamento brasileiro, doutor em pensamento luso-brasileiro e professor emérito da escola de comando e estado maior do Exército. Só com muita má vontade vai-se negar que o ministro é um pensador.

Ficam pequenas, insignificantes, dúvidas quanto ao ministro: sobre o que ele pensa, onde ele pensa e pra quem ele pensa. Uma coisa é certa, o presidente pensa tão bem quanto seu ministro, que ostenta no currículo essa maravilhosa novidade, o pensamento luso-brasileiro.

Esse tal pensamento causa perplexidade. Portugal e Brasil não produziram nada equivalente a um Kant, Schelling, Locke ou Voltaire. O pensamento luso-brasileiro é indigente ou inexistente. Seria como a música militar, que está para a música como o pensamento luso-brasileiro para o pensamento?

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5 ideias sobre “A juventude bolsonárica

  1. SERGIO SILVESTRE

    Minha irmã e minha esposa são professoras,votaram em branco na eleição para presidente,isso é um assunto para essa ultra- direita que tá no poder ligar o desconfiômetro que tem 10 professores neutros para cada professor marxista. ,

  2. vidal

    O indicado é mestre, doutor, pós-doutor, estudou a vida toda. Esperamos, todos, que tenha aprendido alguma coisa de gestão, pois somente com filosofia e conselhos de ética nas escolas não vai ajudar a melhorar a educação brasileira

  3. jonas

    O que é um professor NEUTRO? O que é um cidadão NEUTRO? A neutralidade, na ciência ou na política, pode ser uma evidência de fraqueza tão grande quanto a certeza absoluta. Não tomar partido é tomar partido. Para Max Weber, “o neutro já optou pelo mais forte”.

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