6:30A culpa e a desculpa

Ontem, no primeiro dia de julgamento, o ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho disse o seguinte para as mães dos dois jovens que morreram em acidente onde ele esteve envolvido e é acusado de ser o culpado: “Eu sei que eu nunca tive a oportunidade de pedir desculpa para a dona Christiane e para a dona Vera. Quero hoje poder pedir desculpas pelo que eu causei”. Pode ter sido um erro de construção da frase por conta da ocasião, mas, levada ao pé da letra, se em quase nove anos ele nunca teve oportunidade para tal, dá para entender que não faria isso caso não estivesse no Tribunal do Juri.

Confira a reportagem da Gazeta do Povo:

Carli Filho assume culpa e pede perdão a mães de vítimas; ouça o depoimento

Em pouco menos de 20 minutos, ex-deputado reconheceu ser culpado pelas duas mortes do acidente. Desfecho do julgamento sai nesta quarta-feira

por Euclides Lucas Garcia, com informações de Felippe Aníbal e Katia Brembatti

Foram 8 horas de júri no primeiro dia do julgamento de Fernando Ribas Carli Filho, em Curitiba. O ex-deputado estadual compareceu, se disse arrependido e falou que “eles não saíram para morrer, mas eu não saí para matar”. As mães dos dois jovens mortos choraram bastante e tiveram de ver imagens dos filhos depois do acidente, expostas no telão durante o júri. O desfecho do julgamento – que será retomado às 9h30 − deve se dar na tarde desta quarta-feira (28) com os votos dos sete jurados e, no caso de condenação, a definição da pena por parte do juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar.

TEMPO REALveja como foi o primeiro dia do julgamento

Quase nove anos depois da madrugada de 7 maio de 2009, em que morreram Gilmar Rafael Yared (26 anos) e Carlos Murilo de Almeida (20 anos), Carli Filho falou publicamente pela primeira vez sobre o acidente. Em pouco menos de 20 minutos, ele reconheceu ser culpado pelas duas mortes, mas disse que jamais teve essa intenção. Ao responder a uma das perguntas do juiz, dirigiu-se às mães dos dois rapazes com a voz embargada e pediu desculpas: “Eu sei que eu nunca tive a oportunidade de pedir desculpa para a dona Christiane e para a dona Vera. Quero hoje poder pedir desculpas pelo que eu causei”.

Ouça o depoimento completo de Carli Filho

16:53Yared não vê sinceridade no pedido de desculpas de Carli Filho

No depoimento, o ex-parlamentar afirmou que nunca fugiu do processo judicial, mas usou o direito de ampla defesa por entender que a denúncia contra ele não é correta – foram mais de 30 recursos. “Eu jamais poderia imaginar que aquele carro passaria pela minha frente. Ninguém poderia imaginar. Eu errei, eu bebi e eu dirigi”, declarou. Negando que estivesse fazendo um racha naquela madrugada, disse ter encontrado amigos no restaurante e continuado a comer e beber. Respondeu ainda ter acordado dias depois no hospital, sem se lembrar do que aconteceu. Também afirmou que não sabia que a carteira de habilitação dele estava cassada na época – com 130 pontos e 23 multas por excesso de velocidade.

Outro depoimento bastante esperado, porém, não ocorreu. A mãe de um dos jovens, a deputada federal Christiane Yared (PR), não teve condições emocionais de falar durante o júri. Já bastante abalada, ela e Vera Lúcia de Carvalho viram imagens dos filhos mortos expostas no telão do tribunal. A pedido da promotoria, foi exibida, por exemplo, uma foto com a cabeça decapitada de uma das vítimas. Uma das testemunhas, que passava pelo local do acidente, disse ter coberto a cabeça com uma caixa do sapato.i influenciar as eleições?

Depoimentos

Primeira das seis testemunhas a depor, o médico Eduardo Missel confirmou que bebeu no restaurante com o ex-deputado e que ofereceu carona a ele naquela noite. Segundo ele, no entanto, o amigo entrou no carro, mas depois desistiu. A versão foi corroborada pelo segurança do estabelecimento Altevir dos Santos. Além de afirmar que chegou a segurar Carli Filho para que não caísse, o segurança declarou que insistiu para que ele aceitasse a carona. “Fiz de tudo. Senti que não era coisa boa.”

Na sequência, entretanto, houve dois depoimentos divergentes. Leandro Lopes Ribeiro, que trafegava pelo local e presenciou o acidente, garantiu ter visto o carro do ex-deputado ter saltado cerca de 1,5 metro do chão e atingido o veículo dos dois jovens na altura do porta-malas, perto do para-brisa traseiro.

Por outro lado, o perito Ventura Martelo Filho, contratado pela defesa de Carli Filho, negou que tenha havido decolagem – o que só seria possível a 250 km/h − e defendeu ser impossível determinar a velocidade do carro no momento da batida – a perícia oficial fala de 161 km/h a 173 km/h. Além de criticar as análises feitas pelo Instituto de Criminalística e também pela perícia particular contratada pela família Yared, Martelo Filho afirmou que o veículo das vítimas não parou no cruzamento, e apenas reduziu a velocidade. Portanto, os jovens poderiam ter evitado a batida.

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Uma ideia sobre “A culpa e a desculpa

  1. Fato Notório

    Outro réu confesso.
    Mais um infrator como testemunha:

    “Primeira das seis testemunhas a depor, o médico Eduardo Missel confirmou que bebeu no restaurante com o ex-deputado e que ofereceu carona a ele naquela noite.”

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