5:20Um seriado que dá inveja na gente

por Célio Heitor Guimarães

‘Borgen’ é uma série televisiva, produzida pela TV dinamarquesa, com três temporadas (30 episódios), exibida pela streaming Netflix. Em dansk, Borgen significa Castelo e é um termo coloquial utilizado para referir-se ao Palácio de Christiansborg, instalado no centro de Copenhagen e que, curiosamente, sedia os três poderes da Dinamarca: o Parlamento (Legislativo), o Gabinete do Primeiro Ministro (Executivo) e dos líderes partidários e o Supremo Tribunal (Judiciário). Caso único no mundo.

Escrito pelo roteirista, dramaturgo e diretor dinamarquês Adam Price para a rede de TV DR1, em 2010, o seriado gira em torno de Birgitte Nyborg, uma líder partidária centrista, que, de repente, se converte na primeira mulher a alcançar o cargo de primeiro-ministro da Dinamarca. Na verdade, duas são as vertentes principais da série: (a) a luta da primeira-ministra para concretizar os seus ideais político-administrativos e a sua dificuldade de conciliar a vida profissional com a vida pessoal; e (b) o papel desempenhado pelos meios de comunicação, especialmente o televisivo, e a relação da imprensa com o poder e vice-versa.

Dirigida por Soren Kragh-Jacobsen e Rumle Hammerich, a produção é esmerada, comprovando o elevado nível da indústria cinematográfica dinamarquesa. A excelente Sidse Babett Knudsen é a protagonista principal. Com grande talento, ela oferece à Birgitte Nyborg a dinâmica emocional que a série exige e que lhe valeu o prêmio Emmy Internacional de melhor atriz. Outras figuras de destaque do elenco são: Johan Phillip Asbaek (Kasper Juul), Birgitte Hjort Sorensen (Katrine), Mikael Birkkjaer (Phillip), Lars Knutzon (Sejro) e Soren Malling (o editor Torben), nomes pouco familiares para o telespectador brasileiro. Mas de Mille Dinesen muitos haverão de lembrar-se. Tem um papel secundário em ‘Borgen’ (o da pediatra namorada do ex-marido da primeira-ministra), mas foi a professora Rita, no aplaudido seriado do mesmo nome.

A Dinamarca é um país escandinavo que abrange a península Jutlândia e várias ilhas, ao norte da Alemanha, ligado à Suécia pela famosa Ponte do Oresund (que também já foi tema de seriado para a TV – The Bridge). Minúsculo geograficamente, com pouco mais de 5 milhões de habitantes, conta com um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo e, em 2008, foi classificada pelo Índice de Percepção de Corrupção, da Transparency International, como o país menos corrupto do mundo, compartilhando o primeiro lugar com a Suécia e a Nova Zelândia. Além do que, é um exemplo de civilização e de democracia.

Através da ficção ‘Borgen’, calcado na realidade dinamarquesa, o público espectador recebe uma lição de política e de administração pública, destacando os desafios éticos, as disputas eleitorais, o jogo de interesses e a tomada de decisões. Tudo às claras, atestando ser possível administrar com decência e dignidade e enfrentar os problemas e os adversários com coragem e inteligência. Na Dinamarca a primeira-ministra vai ao trabalho de bicicleta e cozinha para a família ou vale-se do serviço de delivery.

Daí porque ‘Borgen’ é capaz de causar a nós, brasileiros, uma bruta inveja. Mas uma inveja saudável, sem ódio ou ambição, de quem almeja poder também viver, um dia, em um país em que a competência, a honradez e o interesse público se sobressaiam e sejam inerentes, como atributos naturais, aos políticos e aos administradores públicos. Sonhar é possível.

Por fim, outra curiosidade ligada à terra de Hans Christian Andersen, berço dos vikings e dos ancestrais de meu avô materno Guilherme Lorenzen: durante a exibição da segunda temporada da série, Helle Thorning-Schmidt, líder do Partido Social Democrata dinamarquês, se tornou a primeira mulher a ser eleita, na vida real, primeira-ministra em seu país (2011-2015).

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