7:28NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) Eu me lembro, eu me lembro, era criança e brincava em Palmeira. Pela Rua Conceição descia uma ponta de gado. Seu Marino ia à frente, aboiando, o berrante na boca. Para avisar à população que se escafedesse. Pois não há de ver que na esquina da Alfaiataria Capraro uma rês determinou-se a enveredar pela Padre Camargo, descendo aquele lançante em desabalada carreira! O Elvo foi atrás dela, e vamos que atropelasse algum vivente!

Passou pela oficina do Luiz Delfrate (defronte ao Clube Beneficente), passou pelo negócio do seu Teixeirinha, fabricante do Café Trevo, e só foi alcançada quando chegava à Vicente Machado. Laçada pelo filho do Marino, incorporou-se ao grupo sem demonstrar nenhuma vergonha na cara.

A caravana seguiu na direção das pastagens do Pedrinho de Paula, onde engordaria, e em seguida seriam todos abatidos e expostos em peças no Mercado. Engordaria é maneira simpática de dizer, que daquele magro capim mal tiravam a energia para continuarem vivos.

Essa lembrança me ocorre agora. Revejo um boiadeiro não tocando berrante, mas empunhando a bandeira do meu país. Atrás dele, um gado magro de ideias e magro de magro mesmo. Uma vaca tenta escapar, nem sabe por que, mas decide abandonar o rebanho; fica feliz quando é laçada por quem vai recolocá-la de volta ao lugar que lhe pertence. Lhe pertence é maneira gentil de se falar. Bons tempos aqueles! – diriam os atuais capitães de mato – naquele tempo o gado conhecia seu lugar.

(*) O que o Planalto faz para angariar uma graninha para ajudar na Economia! Agora apareceu uma rifa, dessas de cartela com nomes femininos, você escolhe um nome, paga e espera sentado. Tinha sobrado Michele. Sou fã de carteirinha da Michele Morgan, mas quis ver as outras opções. Não tinha mais. Já tinham comprado minhas preferidas: Maria Bananeira de Jesus, Sara Auxiliadora, Norinha do Capitão.  Falei assim: “Querem saber?” Ninguém quis.

(*) Um gosto doce na boca, ou é na alma que adocica? Saudade chega de longe ou só foi criada agora, na hora da pandemia? Eu burguês me protegendo das mazelas lá de fora. Na mesa farta, o banquete. Nenhuma ameaça paira real sobre meu castelo. Enquanto isso, nas calçadas, o amarelo dos ipês já enlouquece Curitiba.

FRASES DA HISTÓRIA PARANAENSE: “Não passarão!” – Atribuída ao Barão do Cerro Azul, que queria ter dito “não pensaram” e acabou falando outra coisa bem diferente.

Compartilhe

Uma ideia sobre “NELSON PADRELLA

  1. SERGIO SILVESTRE

    Padrella,a rifa deu na cabeça Damares de Jesus da goiabeira,como tudo em Brasilia era carta marcada,quem ganhou foi o ONIX.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.