8:08100 mil mortos na pandemia

por Claudio Henrique de Castro

               Por quais razões o Brasil é o segundo país em número de mortes pela pandemia no mundo e atinge hoje a marca trágica e absurda de 100 mil vidas perdidas?

               A resposta pode ser obtida na postura do governo federal, nas declarações distorcidas do Presidente, na troca de dois ministros da Saúde, na expulsão dos médicos cubanos, no ministro interino que nem é médico e na negação da ciência em muitas afirmações.

Há também as brigas políticas do governo federal com governadores, prefeitos e o Supremo Tribunal Federal (STF).

               A ausência de foco no combate à pandemia e uma postura institucional da fatalidade da perda de vidas fecha o panorama tétrico.

As desinformações que surgiram desde a cloroquina até a recente, a aplicação do ozônio no ânus, sem falar na recomendação e distribuição de vermífugo, além do desprezo e negação pelo isolamento social e pouco caso para o uso de máscaras contribuem para que a população fique sem saber o que fazer. E as mortes nunca pararam, numa escalada que virou rotina de anúncio nos telejornais.

               Nunca é demais lembrar também de prefeitos e governadores que estão perfeitamente alinhados com este discurso e, em boa parte, a bancada evangélica que nega práticas preventivas e prega o retorno à normalidade.

               A vida tornou-se um custo necessário para a economia: “Vão morrer mesmo, e daí”?”, “Não sou coveiro” e tantas outras frases do presidente da República, repetidas por apoiadores, eleitores convictos e lideranças políticas que se elegeram com discursos do combate à corrupção e a propaganda eleitoral baseada em fake news, inverteram a ordem racional do cuidado com a pandemia. Quem se cuidou e se cuida é chamado de medroso – e as pessoas continuaram e continuam morrendo também por falta de atendimento numa estrutura de saúde sucateada e conhecida.          

               Para que fique registrado, seguem algumas frases ditas por Bolsonaro e a evolução da pandemia no Brasil:

– Vírus superdimensionado (9/03); 25 casos;

– Outras gripes mataram mais (11/03);

– Em 2009, 2010, teve crise semelhante (15/03);

– Não podemos entrar numa neurose (15/03) – 200 casos;

– Esse vírus trouxe uma certa histeria (17/03); 291 casos e 1 morte;

– Não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar (20/03); 904 casos e 11 mortes;

– Não dá pra fazer mais do que estamos fazendo (23/03);

– O povo saberá que foi enganado por esses governadores e por parte da grande mídia (22/03)

– Nada sentiria, ou sentiria, quando muito, uma gripezinha ou resfriadinho (24/03);

– Eu acho que não chega a esse ponto (26/03);

– A maioria das mortes não tem nada a ver com o coronavírus (27/03);

– Não estou acreditando nesses números (27/03) 3.417 casos e 92 mortes;

– Todos nós iremos morrer um dia (29/03); 4.256 casos e 136 mortes;

– Vai morrer gente? Vai! (30/03); 483 mortes;

– Vírus é igual a uma chuva. Você vai se molhar, mas não vai morrer afogado (01/04);

– Tá com medinho de pegar o vírus? (02/04); 784 mortos;

– O vírus está indo embora (12/04); 22.169 casos e 1.223 mortes;

– Eu não sou coveiro, tá? (20/04); 40.581 casos e 2.575 mortes;

– E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre (28/04); 71.886 casos e 5017 mortes;

– E agora, com a azitromicina, pode ser um alento para essa quantidade enorme de óbitos que estamos tendo no Brasil (13/05);

– Que pode dar certo, pode não dar certo [a cloroquina]. (13/05); 12.400 mortos;

– Há quase um consenso na classe médica sobre esse assunto, a cloroquina. (13/05);

– Não deu certo em lugar nenhum do mundo [o lockdown]. (14/05) (Falso)

– O mais jovem acometido [com Covid-19] dificilmente se agrava o problema dele. (14/05);

– Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína (19/05); 16.792 mortos;

– Nós sabemos que não tem uma comprovação científica [a hidroxicloroquina]. (21/05);

– Os que estão morrendo, lamentavelmente, não tem como evitar a morte deles. (22/05);

– Mas não tem outro remédio, o que seria um novo remédio. Só tem a cloroquina. (04/06)

– Até a hidroxicloroquina não tem comprovação. (09/06);  36.455 mortos;

– Não temos informações de que qualquer pessoa tenha falecido por falta de UTIs e respiradores. (15/06) (Muitos relatos contrariam esta afirmação);

– Quase 90% [dos infectados com Covid-19] não sente nada. Nem sabe que tem. (19/06) (Insustentável cientificamente);

– Nós, ao longo desses meses, despendemos quase R$ 1 trilhão [no combate ao coronavírus]. (07/07) (212,7 bilhão na realidade); 65.487 mortos;

– O vírus, quem tem que se proteger? O idoso, no meu caso, 65 anos de idade. (09/07);

– Por que que tá morrendo menos gente mesmo com a pandemia, levando-se em conta todos os tipos de óbitos, menos gente do que o ano passado? (09/07) (Falso)

– Sabíamos da potencialidade do vírus (15/07); 74.133 mortos;

– Por que negar (a hidroxicloroquina)? Não tem outra alternativa. (16/07);

– Não sou médico, não recomento pra ninguém (a cloroquina) (16/07);

– Todos dizem, são unânimes, que pelo menos 70% da população vai ser infectado. (16/07); (Falso cientificamente)

– Pelo que eu sei, ninguém morreu por falta de EPI ou respirador [no Brasil] (18/07); 78.851 mortos;

– Hoje a AMB recomendou que fosse usado esse medicamento [cloroquina] para combater o vírus em fase inicial. (20/07) (informação falsa); 79.488 mortes;

– Não tem comprovação científica? Não tem. Mas também não tem dizendo que não faz efeito. (30/07); 90.134 mortos;

– Ainda não temos alternativa para o tratamento da Covid-19 além da hidroxicloroquina (01/08);

– Não temos um remédio comprovado cientificamente (06/08); 97.256 mortos;

– A gente lamenta todas as mortes, está chegando a 100 mil, vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema. (06/08);

Ontem, 07 de agosto, a conta chegou a 99.572 mortos. Hoje os boletins vão anunciar mais de 100 mil, porque a média diária de óbitos passa de mil. O país tinha 2,91 milhões de infectados e liderou as mortes no mundo em 24 horas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 1437 mortes, seguido dos EUA com 1307 e Índia com 886.

     Bolsonaro, segundo o site Aos Fatos, fez 1510 declarações falsas ou distorcidas, em 583 dias, a posse até 06 de agosto, sendo em 2020: março (163), abril (156), maio (203), junho (146) e julho (129).

               Podemos mudar o curso dos acontecimentos? O Poder judiciário, as OABs, as entidades de classe dos Profissionais da Saúde, as assembleias estaduais e as câmaras municipais, o congresso nacional? Ou o próprio governo pode dar uma guinada nestes acontecimentos?

                Podemos retornar às aulas, expor crianças, jovens, professores, funcionários e famílias, para os tubarões do ensino lucrarem a todo custo? Mesmo com a pandemia não ter atingido a curva descendente?

                Podemos votar nas eleições deste ano sem risco algum para as pessoas?

                Relaxar o isolamento social, mesmo liderando a expansão da pandemia no mundo?

                Por que as fronteiras estão se fechando para brasileiros no exterior?               

A expansão da pandemia e as mortes são evitáveis. A desculpa de que o país tem dimensões continentais é esfarrapada. O exemplo do países que estão vencendo a doença estão aí para serem implantados. Mas o que se prefere é a bagunça de sempre, mesmo com este inacreditável número de mortes

Fontes:

https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/63984/siga-em-graficos-evolucao-de-casos-e-mortes-por-coronavirus-no-brasil-e-veja-se-pais-esta-achatando-curva

https://www.aosfatos.org/todas-as-declara%C3%A7%C3%B5es-de-bolsonaro/

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/05/01/todos-nos-vamos-morrer-um-dia-as-frases-de-bolsonaro-durante-a-pandemia.htm

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4 ideias sobre “100 mil mortos na pandemia

  1. SERGIO SILVESTRE

    A hora que isso tudo acabar,alguém será responsabilizado?Ou será premiado com novo mandato.

  2. Laerte Ribas

    E o povo não está nem aí…tudo na rua sem máscara…..qdo morre alguém ficam culpando outros… povinho mequetrefe

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